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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O Egoísta

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Todos o olhavam com desdém,
Viam nele o que neles não viam,
O egoísmo de o ter quem o tem,
Reflexo que nos olhos se retém,
E para lá dos olhos não sentiam,
Irreflexo que da alma escondiam,
Escondendo espelhos de alguém,
    Que revelasse como eles seriam!...

Olhavam-no através do embaço,
Ele que neles não encontravam,
Causava-lhes sentido embaraço,
Não sentir-lhe qualquer cansaço,
De ser o egoísta que acusavam,
Era o egoísmo que desprezavam,
 O dele, que crescia a cada passo,
   Ao passo que o deles decrescia!...

Viam sorrir aquele feliz egoísta,
Como quem sorri por não o ser,
Viam-no e viam um optimista,
Olhares ao alcance da sua vista,
Que por nada se coíbe de ver,
Viam-no sem querer parecer,
E ele era-o, simples e altruísta,
    Como tem tudo para oferecer!...

Era ele de um egoísmo tamanho,
Que jamais quis saber do que era seu,
Nada deu a si mesmo e de tudo a todos deu,
Há pão e sorrisos, dados por esse egoísta estranho,
E o mundo continua a ver nele o que dele tudo recebeu,
Nada se perderia da dádiva e mais se ganharia do que mereceu,
   Sempre se soubesse que se tudo se desse tudo se teria ganho!...
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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Convenientes Dedos do Medo


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Com medo das inconveniências,
Achava conveniente escolher o medo,
Muito bem de convir é não apontar o dedo,
Ao mesmo dedo que nos acusa de conivências;
Ensina-nos o dedo a apontar o que nos convém,
O mesmo dedo que sobre o nosso dedo sabe bem,
O que muito bem sabemos sobre a nossa consciência,
Só não sabemos o que não sabemos de nossa demência,
Nem queremos saber da razão que o demente não tem,
Vai daí, aponta o nosso dedo o lugar de nossa ausência,
    E logo que vai, desviamos os olhos do dedo que vem!...

Enquanto coçava o cu da mão, achava o dedo merdoso,
Que todos os seus dedos existiam para serem medrosos,
Por medo de ser apontado, apontava o dedo corajoso,
Apontava-se também com seus dedos corajosos,
Antes que os outros dedos desonrosos,
Apontassem ao seu dedo honroso,
     A culpa por estarem furiosos!...

Convinha, convinha e há que convir,
É conveniente respeitar o medo imposto,
Conviessem muitos a verdade da razão a seguir,
Mas por cada dedo que vai, há-o que está para vir,
Apontam-se dedos na esperança de garantir o encosto,
Da mesma mão, há culpados dedos acusados de desgosto
Atadas estão as mãos que ao tolhimento se deixaram anuir,
   As mesmas mãos que escondem a pouca vergonha do rosto!...

É mais complicado do que parece, dizem os dedos instruídos,
As mão devem apresentar-se sempre limpas como as de Pilatos,
    Há dedos felizes sob a ditadura de punhos e são corrompidos,
       Não se fazem mão que os responsabilize pelos seus actos!...

   
                             
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terça-feira, 1 de maio de 2012

Calos de um Soneto sem Trabalho


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Contemplavam em silêncio suas mãos macias,
Pendentes nos cruzamentos pálidos das linhas,
Em cada traçado haviam encruzilhadas vazias,
Que incapazes de impedir o desalento dos dias,
Escondiam-se em silêncio como almas sozinhas,
Caídas a um canto dos olhos de noites vizinhas,
Ali ficavam nas rasas conjeturas das melhorias,
   E extenuante trespassar das horas mesquinhas!...

Trabalhava sem descanso no sentido figurado,
Fincando-se na única imagem do seu trabalho,
Aprisionada em suas mãos de homem fatigado,
Abatido na desonra de ser mais um espantalho,
Por ter sido despedido com todo o enxovalho,
Pelo novo tempo do mais moderno predicado,
Que o fez sentir ser uma carta fora do baralho,
   Às mãos de um jogo pelo qual foi segregado!...

Se a vossa fome teimais em não deixar matar,
Aceitem-se como os cúmplices de vossa morte,
Talvez vossa tão grande culpa não vos importe;
Não são os outros sempre mais fáceis de acusar,
Apontados pelos vossos dedos de fraco recorte,
    Vergados às vossas mãos mortas por trabalhar?!...

Abrem-se as vossas mãos para vossa culpa calar,
Mostrando os calos já escoados no desemprego,
Há despedimentos que cruzam linhas sem medo,
Enquanto os desempregados incapazes de lutar,
Estendem a sua mão torpe por tanto se queixar,
    Dos seus calos perdidos apontados a dedo!...

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Se vossa merecida fome matá-la não deixam,
Nem alimentam o desejo de por ela algo fazer,
Então, quantos desses vossos calos se queixam,
     Se dos queixumes da morte não quereis saber?!...
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