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terça-feira, 10 de maio de 2016

52 - Passado da Vida Eterna

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Fui eu nascer neste estranho dia,
Nasceu este dia no dia que teve de ser,
Fui eu acreditar nesta Europa de alegria,
E logo vi a alegria desta Europa fenecer,
Foi pela morte que a vida fui temer,
   Nesta Europa a deixar-se morrer!...

Tantos anos de tão poucos,
Tão poucos de tantos anos,
Vivemos tão pouco por tão loucos,
Loucos por tantos enganos,
Pensamos ouvir gritos humanos,
    E, desumanos, somos tão moucos!...

Olho para o passado,
Perco-me neste futuro,
Sou presente pouco seguro,
Ausente deste maldito fado,
Que morreu e foi enterrado,
Pelo poder mais obscuro,
     Sempre assegurado!...

Pró diabo, estes cinquenta e dois,
Mais estes ares de Primavera moderna,
O futuro ficou lá atrás, para depois,
     No passado da vida eterna!...
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terça-feira, 3 de março de 2015

400 Poemas d'Alma


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   Haverá mais poemas que estejam por vir?!...
Talvez um poema se revele no que vou vendo,
Há poesia que, nas palavras, se foi perdendo,
Palavras que deixaram de sentir,
Deixadas partir,
Com algum poema que o fosse sendo,
E com as suas palavras fosse crescendo,
Sentindo a saudade de nele prosseguir,
A saudade do silêncio e de o saber ouvir,
O não saber que do poema sabendo,
O saberia, sabendo como não sorrir,
Com as palavras fosse aprendendo,
E com o poema aprendesse a rir…
Rir de não saber o que se vai lendo,
Sem deixar de ler,
Sem deixar de mentir,
Mentir às palavras sentidas,
E deixar que nelas o poema as queira esconder,
Fazer delas o que lhe apetecer,
Dá-las como perdidas,
Encontrá-las escondidas,
Na vontade de as conceber,
Senti-las vivas e atrevidas,
      E vontade de as ter!...
Há sempre mais um poema à espera de existir,
Todas as palavras desconhecidas existem,
Os sentimentos não desistem,
É sã, a carne viva da emoção de existir,
É tão viva a dor e o prazer da razão de resistir,
Resistência à tentação dos vazios que persistem,
Vazios que se enchem dos interiores persistentes,
 E no sossego do nada desejar em que insistem,
Nadas moles, atormentados e insistentes,
 E nada há que os faça desistir…
O nada dos nadas que do nada não querem sair,
E por nada que seja, sem nada, se deixam ficar,
Sem nada querer, ou não, e gostar,
De todos os poemas ausentes,
      Sem nada das palavras esperar!...

Vagueando entre palavras sem rumo,
Entre costumários sinais de rumo certo,
Na certeza de rever-se num poema incerto,
E na sorte certa de perder-se num breve resumo,
Leve como o desvanecimento de uma língua de fumo,
Que se eleva nos leves braços doutro fumo descoberto,
   E se esfuma na palavra cúmplice com uma leve ironia!...
   Uma baforada de cachimbo, lúdica e plena?!...
  Um beijo e um olhar de melancolia?!...
Flutuando sem destino, desencontro-me do tema,
Procuro-me no destino do tema vadio de uma pena,
Escrevo o destino dos pássaros nas asas de cada dia,
Dou asas à infância escrita nas asas de minha fantasia,
Como se eu quisesse ser fumo que voa de um poema,
Ser todas as palavras de um beijo que bocas silencia,
Ser a criança beijada e ser o beijo que me acena,
Soprado por quatrocentos lábios de poesia!...



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sexta-feira, 9 de maio de 2014

A.50



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Há sempre uma pequena aldeia,
Um pequeno espaço entre o tempo e o tempo,
Há sempre o tempo que permanece jovem na ideia,
E o outro tempo!...
O momento,
E a juventude que serpenteia,
Um pouco de sinuosa odisseia,
E por mais que se tente,
Faz-se o caminho em frente,
Como se fez o fazer do continuar,
O que fica e continua a ficar,
Folhas que caem suavemente,
Fazendo-se dimensão sem o pensar,
No longo limiar do caminho!...

Curtos os passos de um rapazinho,
Fraquinho e obra de um milagre qualquer,
O que se quiser e Deus que nos queira com seu carinho,
Só um bocadinho da sorte do merecer o amor que se quer,
E Merecer o que puder para ter Deus como vizinho!...

Há uma ideia muito vaga do leite,
As ovelhas sem pasto continuam a vaguear,
E às cabras sempre fora dado o privilégio de pastar
Tão forte foi a crendice milagrosas nas cruzes de azeite,
E a barriga benzida que sempre voltava a inchar;
Benditas cabras e seu leite para me alimentar…
Há uma certa nostalgia na cor dos velhos pastos,
Nos campos brancos a desvanecerem-se na mansidão,
E no silêncio da saudade daqueles tempos meio gastos,
Como… suaves espelhos transparentes e vastos,
Onde me perco numa imagem de imensidão,
E busco perder-me nessa nova dimensão,
     Até reflectir-me e acabar de rastos…
Voltar a beber aquele leite de cabra, eu pudera,
Carregar aquelas cruzes de azeite, quem me dera,
E sentir desinchar os anos modernos do remédio para tudo!...
Sinto a culpa do tempo neste olhar barrigudo,
Fosse o que fosse que o tempo quisera,
Os caminhos forrados de veludo,
Tapetes floridos de Primavera,
Com parte disso e, contudo,
    Já não é isso que era!...

 Do mesmo azeite em vez da brilhantina,
Aquela coragem de minha Mãe Valentina,
A aldeia e a gente de quem nunca me despedi,
O adeus adiado à escola, princípio do que aprendi,
Como aprender depressa e fazer a quarta na terceira,
E o fim das viagens com a essa professora verdadeira,
   Tão verdadeira quanto suas belíssimas pernas que vi!...

Pai!...
Meu Pai e sua morte,
A ironia do azar e da sorte,
A partida à pressa de quem não vai,
De quem acaba por ir e da aldeia não sai,
O ter que ser da mudança e a resignação forte,
      O destino infalível de quem se levanta quando cai!...

A chegada ao Bairro da Ponte,
As águas do rio e a água da fonte,
A própria fonte e um imediato apego,
Fronteiras do tempo e só depois Lamego,
A proximidade do longínquo horizonte,
O limite da aldeia e do seu sossego,
    A descida pela subida do monte…
Como o tempo indiferente,
A indiferença das horas e dos dias,
A escalada involuntária até à nascente,
Por entre dedos, o escoar das águas evidente,
Sonolentas águas mornas e o arrepio de águas frias,
    E a dúvida se aquela água não serei eu!...
Escoado em queda livre com os amigos,
Sem pensar naquilo que nos aconteceu,
 Enquanto caímos entre velhos castigos,
   A dádiva do tempo que Deus nos deu!...


Debaixo da ponte a água continua a correr,
Talvez as pedras saibam do aniversário dos caudais,
A força que nos leva barquitos de papel cheios de prazer;
Corremos para ambos os lados da ponte que nos viu crescer,
E apostamos na rapidez do nosso barquito do qual gostamos mais,
A montante corre forte a água que debaixo da ponte se vai esconder,
Esconde o barquito de papel que por momentos não podemos ver,
   Voltamos ao outro lado da ponte e não vislumbramos um cais!...
E lá vão eles, cada um carregado com os nossos anos,
Rio abaixo, saudado por bogas, trutas e bordais,
Deixando a saudade que cada vez pesa mais,
   No coração destes barquitos humanos!...

Olhamo-nos e ainda nos custa acreditar,
Sentimos tão perto as picardias de nossa inocência,
O tempo ensinou-nos a conviver com os anos de paciência,
E com os amigos que a distância entre margens fez separar;
Como distante era o juízo do nosso inexperiente olhar,
Sob os que marchavam numa fúnebre agência,
Aqueles velhos quarentões,
Muito velhos sem ilusões…
Somos tão Homens,
Cinquentões,
   E somos tão Jovens!!!...


Outras margens se encontraram,
Sabia das águas felizes no fim do inverno,
E da felicidade que os rios da vida trouxeram,
Há sempre uma Mulher a verter um sorriso materno,
E o apelo da outra corrente que a margens de amor fizeram,
Mulher, essa margem e rio que as águas do destino quiseram,
Margens encontradas no prazer de um bendito inferno,
   E os filhos, esses barquitos que homens se fizeram,
   Com as folhas que navegam no meu caderno!..
  
Hoje… entrego-me a uma certa nostalgia,
Os espelhos estão cada vez mais transparentes,
Vejo-me na imagem de todas as imagens aparentes,
E no reflexo concebível de uma espelhada Poesia,
   Que me faz igual a tantos 50 anos diferentes!...

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

300

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Não me lembro do primeiro Poema!... Talvez não o tivesse deixado por aí, numa folha qualquer, na ponta da língua ou intitulado no dorso da alma. Por falta de muitas razões, não lhe atribuí um título, não o chamei disto ou daquilo ou certifiquei alguma relação com a minha identidade, a identidade do poema, de qualquer coisa guardada nas páginas viradas da vida e das que se vão virando, virando… até ao fim do livro!... Como poderia existir o livro se não existe o primeiro poema?!...  Também não guardo na memória, o segundo poema, nem a sombra do verso mais iluminado. Desisto de procurar uma razão para a existência do terceiro, do quarto, do quinto e por todas as páginas viradas de um livro, adentro na possibilidade remota de não encontrar todo o meu interior do lado de fora, simplesmente!...
Devo ter acarinhado letras e convencê-las a juntarem-se até às palavras, embalando-as, do embalo de um verso ao castigo de um poema sem nome, profundo que seria o castigo de quem o lesse!...
Chego às páginas em branco e tudo que devo ter escrito, se resume a essas páginas por tingir, por afagar com pena e pena tingida, de não as ter preenchido mais cedo. Como se uma página em branco me preenchesse mais do que qualquer página preenchida, albergue do primeiro, do segundo, do terceiro, do quarto, do quinto e de todos os possíveis poemas sem memória que me desmemoriaram da minha sombra à luz do consentimento involuntário da poesia dos outros!...
É do lado de fora que guardo o que arranquei de dentro, com mais ou menos dor,
Com mais ou menos amor,
Com muito prazer,
Constantemente!...
Nem sempre o tenha sabido fazer,
Muitas vezes devo ter sido um grande estupor,
Umas vezes por o querer,
Outras sem o saber,
Mas sempre em assunção de autor,
Inevitavelmente!...
E é do lado de dentro que fecho as chaves da gaveta, da porta, do cofre insuspeito à prova do meu lado de fora, em denúncia fúsil entre facções do mesmo corpo, da mesma alma e de todas as semelhanças com o que de mais diferente há no silêncio ou no grito!...
Eco dos estados comuns em que acredito,
O verdadeiro silêncio em precioso auxílio,
Do dito e do que dizer do não dito,
Nada dizendo do sentir mais restrito,
Mas sentindo, apesar da sensação de exílio,
Obrigado a ser seu verdadeiro domicílio,
Viver e estranhar a descoberta do fim do infinito…
E sobreviver!...

O Poema falou de ti, de ti e de ti!... E de ti também!... Transvestiu-se, transvestiu-te, despiu-se e expôs aquele pedacinho que guardavas só para ti… despiu-te!... Despojou-te de toda a pele exposta, de toda a carne cansada sobre os ossos e, por momentos, lambeu-te o espaço vazio entre o perónio e a tíbia!... Transversal, a língua e o vazio por onde ela passa. Momentoshouve em que a tibieza do vazio, atravessou o atrevimento da própria língua, da linguagem e do poema surpreendido, para surpresa de quem vê receber-se em embrulho de prenda, sem laços nem surpresa íntima!... Nunca houve dor para lá de qualquer linha de intenção, escapando à intenção do flagrante delito sem intenção clara, no seguimento das metáforas pertinentes!...
Como se desconfiasses da subentendida virtude,
E te entregasses às certezas mais incoerentes,
Indiferente às memórias adolescentes,
Apaziguando tua indiferença com atitude,
Por ser tão forte aquela sensação de juventude…
E como são jovens os versos do poema!...
Sem idade, a poesia sem idade aparente,
Lendo-se entre versos de inquietude,
Com o olhar brando de uma quietude latente…
E como é bela a Poesia sem idade e serena!...

A verdade, essa sim, fria e sem cálculos, envelhecia páginas vivas e, ávida como o tempo, refastelava-se à mesa da falta de cuidado, do abandono e esquecimento. Sem dó nem piedade!... E aqui está a desculpa, uma mísera tentativa vã de justificar o primeiro Poema inexistente, poema, esse, que deu origem à inexistência dos Poemas seguintes, como se eles não existissem no cheiro do teu livro, do teu e do teu… e do teu também!...

Os poemas sabem bem,
Sabem do cheiro dos eucaliptos abatidos,
Do papel dos livros envelhecidos,
E de outros papeis olhados com desdém,
Pelo papelão dos culturais adidos,
Esse bem tratado papel grosseiro,
De gente afetada e fina!...
Fina como a mentira jovem, sempre muito infantil, incapaz de merecer a generosidade do tempo… e morre. Insustentável, tenra e verde, antes da Poesia e da verdade que se mete na cabeça de todos e nem a morte a consegue desalojar. Sempre tive medo da morte, não da morte, morte, enquanto morte e fim de quase tudo que significasse a vida que quase ninguém quer perder; medo da morte da verdade, isso sim, de aceitá-la como verdade e ser capaz de “fazer-lhe a folha”, a mando ou traindo-me, anavalhando-me nas minhas próprias costas com um dos muitos corta-papéis que os falsos poetas usam para cortar métricas e rimas, sentidos e sentimentos, emoções e beleza emocionante… navalhadas na banalidade dos voos das borboletas e no cheiro poético das flores, facadas profundas no mel das abelhas e no pólen sensível das Primaveras!... Até, da queda lenta, muito, muito lenta da velha folha carregada de velhas nuances outonais, sobre a qual há universos de Poesia sem fim!...
Só Deus sabe onde está o meu primeiro Poema!... Só Deus sabe onde encontrar a minha última folha, quando eu for folha que cai lenta no tempo suspenso… até ao Poema que antecedeu o primeiro, logo a seguir ao indecifrável Poema derradeiro!... A imortalidade da Poesia nas mãos de alguns mortais, uns quantos, dos quais não souberam morrer nem souberam ensinar alguém a matá-los, acabando a sua imortalidade de consagrar-se entre outros poemas da humanidade comercial e capitalista. Pró diabo com o primeiro poema grátis, capitalizado pela morte do Poeta, carregado em ombros na noite do seu enterro, até à cova de onde jamais sairá para reivindicar o que é seu, por direito!... Afinal, diz-me o Poeta: “ -Reivindicar o quê?!... Dinheiro, honrarias e bocas pintadas de um forte vermelho dissimulado entre os lábios, sempre prontas a beijar qualquer morto que lhes abra a porta do paraíso, sem que o inferno onde arderão ao abandono da alma, lhes cause a mais pequena hesitação?!...”

Poetas, confiam às palavras, poemas sobre o Poeta que se virou de bruços e cavou um pouco mais além do último poema exumado!... “Reivindicar, o quê?”, desabafa o pobre coitado, enterrado e bem enterrado na interpretação mais errada daqueles que o enterraram para mais tarde o desenterrarem, com a pesada certeza daquele doido não sair do silêncio a que foi votado com toda a censura dos vivos, dos vivos e dos bem vivos também!... “Reivindicar o quê?... 

O que tu não sabes sobre o que sinto,
Quando sofres sem sofrimento pelo que sentes,
E por mais que tentes,
Serás sempre um papa-formigas faminto,
Matando a fome com o trabalho daqueles a quem mentes?...”
No primeiro livro do poeta extinto, extinto que foi o primeiro poema, os livros não acabam no princípio da poesia. É uma tal coisa!... Os pensamentos defuntos dos vivos que os vivos vão desenterrar aos mortos!... Só assim o Poeta existe, a Poesia existe. Só assim tu existes, tu existes, tu existes e tu existes, todos existem… uns mais do que outros e tu também!...

É!... Não me lembro do primeiro Poema que perdi,
Devo tê-lo perdido nas primeiras palavras levadas pelos ventos,
Bóreas, Noto, Zéfiro ou pelo Eurus das tempestades que nunca vi,
Mas tenho esta sensação inexplicável do que senti,
   Um só sentimento?... Quantos sentimentos!...
Uns cheios de paz, outros muito violentos,
Com alguns quase chorei,
Por outros cheguei mesmo a chorar,
Por todos os poemas eu ri,
Umas vezes de alegria pelo que li,
De outros, ri de tristeza, por momentos…
Voei com a leitura de quem sabe voar,
Nunca foi preciso saber rimar,
Sabem-no os atentos,
Basta respirar,
Amar e…
   Trezentos!...

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