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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ai Aguenta, aguenta...

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Impiedosamente curvado,
Sob as borboletas desiguais,
Ai, aguenta, aguenta…
As asas em abatimento calado,
Estilhaçadas pelas canduras fatais,
Dos fragmentos sedutores por sinais,
Pousando de futuro em futuro dourado,
Que, agora, lhe revolve o ânimo estilhaçado,
   O bater diferente das asas de borboletas iguais;
Por cada bater das asas que o eleva e sustenta,
Cai em si e tanto pesa que quase se rebenta,
E vêm-lhe aqueles esmagamentos mortais,
De quem não aguenta,
Ai não aguenta, não aguenta,
Pese embora a fantasia da igualdade,
É esmagador o pesadume da realidade,
Intenso o ardor esvoaçante que o alimenta,
E o estômago que ainda arde em humildade,
Descobre-se então de um forte bater novo,
Que renasce dessa tenebrosa tormenta,
Nas asas indestrutíveis de um povo,
Que quase tudo aguenta,
Ai aguenta, aguenta!...

As borboletas tomaram um atalho,
No estômago insurge-se uma gástrica canseira,
Da inconstância da dúvida renasce a certeza sobranceira,
   Vende-se inteiro à alma e ás borboletas, a retalho,
Quanto ao resto que de si se lamenta,
 Senta-se no que de si sobra e se tenta,
Engole as cores aguentadas de sua bandeira,
E ai que aguenta, aguenta…
Já fora pólen de flor e orgulhoso carvalho,
Ai, as borboletas que o pensamento aguenta,
     Sentindo o voo sem descanso nem trabalho!...
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terça-feira, 1 de maio de 2012

Calos de um Soneto sem Trabalho


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Contemplavam em silêncio suas mãos macias,
Pendentes nos cruzamentos pálidos das linhas,
Em cada traçado haviam encruzilhadas vazias,
Que incapazes de impedir o desalento dos dias,
Escondiam-se em silêncio como almas sozinhas,
Caídas a um canto dos olhos de noites vizinhas,
Ali ficavam nas rasas conjeturas das melhorias,
   E extenuante trespassar das horas mesquinhas!...

Trabalhava sem descanso no sentido figurado,
Fincando-se na única imagem do seu trabalho,
Aprisionada em suas mãos de homem fatigado,
Abatido na desonra de ser mais um espantalho,
Por ter sido despedido com todo o enxovalho,
Pelo novo tempo do mais moderno predicado,
Que o fez sentir ser uma carta fora do baralho,
   Às mãos de um jogo pelo qual foi segregado!...

Se a vossa fome teimais em não deixar matar,
Aceitem-se como os cúmplices de vossa morte,
Talvez vossa tão grande culpa não vos importe;
Não são os outros sempre mais fáceis de acusar,
Apontados pelos vossos dedos de fraco recorte,
    Vergados às vossas mãos mortas por trabalhar?!...

Abrem-se as vossas mãos para vossa culpa calar,
Mostrando os calos já escoados no desemprego,
Há despedimentos que cruzam linhas sem medo,
Enquanto os desempregados incapazes de lutar,
Estendem a sua mão torpe por tanto se queixar,
    Dos seus calos perdidos apontados a dedo!...

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Se vossa merecida fome matá-la não deixam,
Nem alimentam o desejo de por ela algo fazer,
Então, quantos desses vossos calos se queixam,
     Se dos queixumes da morte não quereis saber?!...
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