sábado, 27 de dezembro de 2014

Dióspiros Silenciosos (O Fruto Maduro de Deus e a ilusão da carne)


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…e vieram os dias seguintes,
Dias de silêncio e pouco luminosos,
Dióspiros vão amadurecendo, silenciosos,
Como sombras maduras da luz dos pedintes,
Revelavam-se tímidos aos cegos ouvintes,
Olhos fechavam-se aos frutos preciosos,
     Amoucados com todos os requintes!...

Gente de carne, osso e pensar desossado,
Comem carne e os ossos até morrerem de fome,
Aos humildes dias de fartura comeram-lhes o nome,
Sem nome, vai passando o esquecido passado,
Pelo amanhã sem futuro que gente come,
Até restar um obeso dia de pecado,
Que um dia de tão enjoado,
      Nele mesmo se some!...

Há um dia cheio de Luz em que Ele nasceu,
Um dia antes do milagre, só se pensa em comer,
O dia seguinte apresenta a conta pelo que se comeu,
Por conveniência, a fome fez de conta que morreu,
A magra fé no alimento da Alma continua a morrer,
A necessidade da Alma alimentada desapareceu,
     E a ilusão da carne na carne continua a nascer!...

Confunde-se a falta de fé com inocência,
Ter fé na bondade é para pobres inocentes,
Avaros, os cépticos continuam prudentes,
Em vez da Alma e consciente consciência,
Preferem esconder Deus entre dentes,
  E morder a língua em feliz aparência,
     Continuando sem fé e descrentes!...

Lá virá outro Natal,
Natal que todos os dias será,
Jesus é menino todos os dias, afinal,
Para cada filho de Deus há um dióspiro bem real,
      Fruto da árvore daquele que dela cuidará!...
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1 comentário:

  1. Entre a terra e a semente, a árvore. Entre as mãos e a fruta, a fome. Entre a Fé e a Esperança, Jesus. Entre o nascimento e a morte, o intervalo da Vida, e sua importância. E assim, faço minha leitura dos Poemas “Fruto de Deus e de Sempre” e “Dióspiros Silenciosos (O Fruto Maduro de Deus e a ilusão da carne)”, buscando, apesar das dinâmicas distintas, uma relação que exceda a semelhança das frutas (imagens) e dos frutos (mensagens).

    Examinando a habilidade das metáforas de cada verso, sou conduzida a um caminho iluminado. Os dois Poemas, além da aliança com temáticas cristãs, também são sociais: exploração de mão de obra desqualificada [“Há vestígios das vindimas feitas, / Campos enfeitados por aspereza,”]; desemprego [“…e vieram os dias seguintes, / Dias de silêncio e pouco luminosos,”]; fome e distribuição injusta de renda [“Gente de carne, osso e pensar desossado, / Comem carne e os ossos até morrerem de fome,”]; desilusão [“Que um dia de tão enjoado, / Nele mesmo se some!...”]; opressão [“O dia seguinte apresenta a conta pelo que se comeu,”].

    Primeiro foi preciso que Jesus nascesse [“Fruto...”], depois, que a humanidade ‘O’ acolhesse [“Dióspiros Silenciosos...”]. A afinidade entre a semente e a Poesia torna-se equivalente. A força que une os dois Poemas consiste na compreensão de que o que sucede ao nascimento não é a morte, mas a Vida. Nas escolhas que fazemos, na Fé que nos sustenta e na Esperança que não nos abandona.

    E me dou conta de que a travessia está completa. E devolvo, então, as palavras a A. Pina, porque a terra que acolhe a semente que se curva perante o ‘fruto’ da Poesia d’Alma, é, também, nessa espécie de ‘oração’, a que melhor ilustra aquilo meu comentário, aceito ou não, se esforçou para dizer:

    “Dia de todos os dias e Jesus… / Dia de Natal!...”.

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