quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Vento...


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Passa atrevido e animoso,
Uma vezes com vozeirão feroz,
Ou de leve mansinho e manhoso,
Entre elas em movimento sinuoso,
Exalante mavioso e aveludado na voz,
E elas desfolham-se rindo,
Enquanto se vão despindo,
Apressam-se, ele passa por elas veloz,
Abraça-as, beija-as e segue furioso,
Afasta-se e desaparece saudoso,
Não vê as últimas folhas caindo,
Deixou-as nuas de tão airoso,
 E um alento frio as cobrindo!..

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1 comentário:

  1. Como metáfora do tempo, “Vento...”, é quase um canto a nos acalentar com o movimento das folhas, numa Poesia com poder de deter a velocidade com que atravessamos o dia-a-dia.

    A visão erótica do corpo feminino em meio às folhas transmite uma sensação de, além de serenidade, imortalidade, ou cristalização de um momento que se deseja eterno, em contraste com a ação do vento que não perdoa, e tudo varre. As folhas, sobrepondo-se umas às outras, no cenário imaginário, constitui uma imagem que congrega duas vertentes: a exatidão e a estabilidade de um instante pendente e, ao mesmo tempo, a suspeita dessa exatidão, pelo caráter inevitável da ação degradante do tempo.

    Pelo olhar poético, o Poema torna-se então, um tributo à natureza móvel. E instável. Pelo poder que confere a Poesia com o dom da criação poética e estética.

    Varre o tempo, as folhas, o corpo e as memórias... só a Arte da Poesia d’Alma permanece perene.


    Boa quinta, A.!

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