sexta-feira, 4 de julho de 2014

Eutanásia do Pressentimento


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… e a todo o amor agradecido,
Movido por gratos pressentimentos,
Ao pressentir os últimos sacramentos,
Entre a dor aflita sentindo-se perdido,
E a sua morte que tivesse pressentido,
    Pressentiu a sua vida entre tormentos!...

Tão doloroso pressentimento de viver,
Em seu inferno desse suplício tão forte,
Tão perto de si, longe demais da morte,
Refém desse único desejo de morrer,
Seria ter toda a sorte e parar de sofrer,
   Apenas se resta entre a vida e a sorte!...

E o pressentimento que não se finda,
A morte que tritura e esmaga,
Com todas as dores afaga,
   E não é morte, ainda!...

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2 comentários:

  1. “Eutanásia do Pressentimento” situa-se entre o limite entre a vida e a morte, e o tema, ainda que indesejado por ser enigmático, e fatal, é sedutor por sua suavidade, e dá a este Poema uma riqueza de perspectiva jamais imaginada.

    O último verso da primeira estrofe [“Pressentiu a sua vida entre tormentos!...”] reflete as circunstâncias dramáticas de uma vida de sofrimento, e, como defesa da dignidade, ou da vida como força motriz contra a dor, a eutanásia. Eutanásia na vida. E na tortura. No pressentimento. E no sofrimento. Eutanásia na má sorte. E no luto.

    Na dinâmica, a Poesia d’Alma esmaga-nos contra a última parede da nossa jornada, e, ao longo de seu objetivo, o caminho [“Refém desse único desejo de morrer,”] é de desesperança, mas um dedo paira sobre um botão, ou na fronteira entre “on” e “off” [“ E não é morte, ainda!...”], e que pode ser identificada como: a Poesia como opção consciente da claridade, ou da iluminação. Afinal, embora nada de novo se revele sob a luz, quando a palavra poética se revela, iluminada, tudo se renova, até a morte, ou o sofrimento.

    E, não só à hora da morte faz-se o pressentimento da vida nutrida de dor, mas a Vida alimentada pela esperança de vencer a morte. Ou a dor de Viver para morrer.


    Boa semana.

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