terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

...do Siso

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Tanto demorou a nascer,
Quase tanto quanto o juízo,
Tanto não queria eu o perder,
E antes que pudesse perceber,
Ainda antes de qualquer aviso,
Anestesiado me foi o sorriso,
Às mãos do que tinha de ser,
Arrancado foi o meu dente,
    E não sei o quanto de siso!...

Vê-se o brilho aparente,
No esmalte da uma bela coroa,
Disfarça-se o hálito que magoa,
A quem cheira a boca de frente,
Esconde-se a dentina decadente,
E uma infectada polpa em pessoa,
Dentes mordem discretamente,
    Outros mordem línguas à toa!...

Saio insensível pela anestesia,
Bocas bem tratadas são impedidas de sentir,
Granulomas consentidos fazem os dentes cair,
Por não me sentir, minha língua quase eu comia,
A fome é o antibiótico de um povo em agonia,
Caem os dentes de bocas prestes a ruir,
   Cerram-se novos dentes noutro dia!...

Já sem ver o lado direito do juízo,
Vejo a dor escondida,
Vejo gente,
Vejo gente mordida,
Vejo um dente,
Vejo a verdade doente,
Vejo lindos dentes sem vida,
Vejo o pus sobre a comida,
    Vejo a coroa que mente…
      E já não vejo o meu dente do siso!...
    
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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Bissexto dos Comuns

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Comum não é qualquer ano,
Nem os há para qualquer um,
Há dias iguais de ano comum,
E nódoas no branco do pano,
  Há panos tingidos por engano,
      Bibes sujos sem futuro algum!...

Comum é também o pretexto,
Ego que roda à volta de seu rol,
Júlio e Gregório são puro crisol,
É ímpar a ideia de ano bissexto,
 Pares indivisíveis pelo contexto,
     Espelham o dourado do seu sol!...

É movimento sem contestação,
Girar à volta de si,
Como nunca vi,
Girar num cerco de translação,
Os calendários pouco são de ti,
São a convenção de quem se ri,
Convencionada razão,
São religiões da religião,
O poder algures por aí!...

Tudo gira por este mundo que gira,
Ai que giro ver loucas ideias a girar,
E rolam cabeças à volta da mentira,
Abraças o bissexto que anos te tira,
      És ano comum com a cabeça a rolar!...
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sexo Causal...

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Escondemos-te o que sabes desta mágoa,
Do teu amor tão distante que nos magoa,
Procuramos-nos em tua moral de pessoa,
E é um rio que vemos, triste e sem água,
   Leito árido por onde teu Amor se escoa!...

Do sadio Amor dos que te amam te dão,
É Amor nascido ainda antes de nasceres,
Dado à luz, foste a luz dos amanheceres,
Amanhecemos contigo em nosso coração,
     Anoitecemos tristes se triste anoiteceres!...

Como é imensa a tristeza da saudade,
É mais triste quando estás mais perto,
Tão longe te vislumbramos amizade,
Procuramos-te de coração aberto,
E o que encontramos mais certo,
     É uma triste realidade!...

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Tão cego o nexo causal,
Das circunstâncias até ao efeito,
Tão sexo é o hábito do sexo casual,
Do acontecer até ao defeito,
Já friamente contrafeito,
Na podridão social!...
    
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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

As Pombas do Papa

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Bergoglio e "Madona",
No palco partilhado a meias,
Pela verdade que vem à tona,
Ondula o líquido sobre as teias,
Talvez seja o azeite de candeias,
Breu feroz de secular intentona,
Que não se limitando à sua zona,
    Tomaram o mundo em alcateias!...

Papa de livres credos e religiões,
Papos d’anjo de mui nobres intenções,
Agora, vejam bem o milagre de tudo isto,
Vai o Papa, papando os créditos de Cristo,
Congregando as mais diferentes opiniões,
O Messias sem anúncio nem nunca visto,
  Espectáculo para amolecer os corações!...

A peneira que falsos raios de Sol destapa,
Jesus Cristo, atirado à morte pelo Judeu,
   Para espanto dos traidores, não morreu!!...
Ressuscitou a Paz, sem espada nem capa,
Com seu humilde Amor que Deus lhe deu;
Se a morte não o matou, ninguém o mata,
A usura sem Deus, tomou Roma à socapa,
Se a Verdade reclama o crente como seu,
Crê-se no pagar pelo que sofre ou sofreu,
Em nome da Verdade infiltra-se um Papa,
   Conciliador enviado pelo insuspeito ateu!...

Sobe ao palco uma imagem da humildade,
Milhões de Almas em desespero de causa,
Perdem-se no pouco que resta da verdade,
Despojam-se perante o brilho da divindade,
E quando a mentira vai permitir uma pausa,
O palco bem montado volta a subir,
Sobe com ele a estrela celeste a fulgir,
Arrebatando a plateia com palavras de bondade;
A dignidade, a Paz e o Amor continuam a fugir,
Aproxima-se a miséria, o ódio e a guerra,
Há pedaços da Almas debaixo da terra,
     Corpos etéreos são para substituir!...

Chegada é a vez das pombas brancas imaculadas,
Jerusalém quer as bombas catolicamente alimentadas,
Falsos Cristãos fecham os olhos à presença dos falcões,
Abutres brancos pairam sobre malogrados corações,
Libertam-se aves de paz para serem assassinadas,
Aos olhos cegos das muito católicas opiniões!...

 Libertam as pombas,
Libertam a brancura,
Libertam as bombas,
  Libertam a ditadura…

Canta uma juventude insegura:
“Papa Rock,
Papa Papa,
     Papa Pop”!...


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Hábito Livre da Livre Rotina

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Sou de Rotinas,
Gosto de passar… e passo,
Pelo nunca onde sempre passei,
Faço-me no caminho que desfaço,
E faço o que desfiz quando cheguei;
Reconstruo partidas das quais partirei,
Livre dos pontos exactos de compasso,
Sem linhas que limitem o meu espaço,
E me prendam à periferia de uma lei,
Obriguem à constância do escasso,
    Curva inconstante do que sei!...
    Sou de hábitos e rotinas…
Dou por mim a ver-me passar,
No verde da mimosa já amarela de cor,
Revivo a sensação nova do revisitado estupor,
Imobilizo-me no sorriso dos lábios florescidos por amar,
E pinto o primeiro quadro que sempre pintei e volto a pintar,
    Único, da delicadeza de Primavera a florir no Inverno em flor!...
   Sou de rotinas…
Neste hábito de sentir nos compassos a incerteza a aflorar
Esquecidos dos círculos fechados incompletos por amor!...
    
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