quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sumiço dos Afetos

.
.
.

Quantos inimigos da verdade,
Tantos inimigos que a mentira vai unindo,
Unidos na construção do mundo que vão destruindo,
Juntos na intriga, dividem a natureza da verdadeira amizade,
Intrigante o sumiço do afeto que parece não ter deixado saudade,
Toma-se chá de sumiço com o açúcar que nos está mentindo,
     E restamos-nos amargos amigos da desigual igualdade!...

Para que o melhor do mundo seja só dos farsolas,
Há redil mais eficaz do que o anestesiante prazer do deleite,
Pela satisfação de esquecer o passado por um futuro de esmolas,
       Quando a esmola são palavras de água que virão ao de cima no azeite?!...
Desdenham as beatas por tal disparate não ser reacção que se aceite,
     E têm razão, as velhas liberdades enclausuradas em gaiolas!...

Já não as atinge o afeto involuntário do orgasmo,
Atingidos que foram os afetos cada vez mais afectados,
Amigas de si mesmas, deram-se ao sumiço do entusiasmo,
Divindades sarcásticas, ajoelham-se ante o olhar do sarcasmo,
São-se amigas sem nada, entre inimigos deleitados!... 
  
.
.
.


4 comentários:

  1. Antes de conduzir à emoção, o Poema pede reflexão. Não há muito de dizer, ou quase nada além de... Estes versos pesados (também) são Poesia.


    Abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os versos, por acréscimo, na intimidade de um equilíbrio poético, são de uma realidade tão cruel que é impossível ignorar a continuidade de sua leitura e me abstrair de comentar, e diria o autor: “mas, de novo?!”.

      Sempre. Sempre que a Poesia tiver força suficiente para me mover. E o que não falta aqui é movimento e força. Força pela habilidade criativa de colocar em versos, não aquilo que todo o mundo já sabe, ou já viveu, ou ouvir falar, mas aquilo que ninguém tem a coragem de dizer.

      A amizade virou amizade de consumo, sem ser de consumação. Interesse, egoísmo, oportunismo e círculos sociais dependentes de uma conexão. Reciprocidade, não de respeito, ou de afeto, ou de carinho, mas de ‘likes’, ou comentários escambos, onde ‘eu comento, tu comentas, nós nos comentamos e somos todos felizes’.

      Felizes.

      A amizade pode ser uma troca. Mas nunca um negócio, ou um comércio. Ou um comentário. Ou um ‘like’ num post de uma rede social.

      E é disso que o poema fala, como se quisesse, ao se revelar, também se explicar. E então que, aquele efeito inicial, ignorado pela expressão do sentimento que não deveria se denunciar, pelo desajuste emocional, retorna com força, e dessa vez pede licença para se pronunciar sem se preocupar com isso ou com aquilo, pela denúncia e entrega. Ou confissão.

      E por falar em confissão, claro que sempre me incomodou o fato de não estar à altura de um comentário d’Alma. Por outro lado, é isso que me dá total liberdade de entrar aqui e comentar sem me preocupar em estar certa ou errada, ou em ter um comentário aprovado ou não (como agora), e para essa liberdade, a de escrever movida por uma leitura poética, cuja escrita transcende todas as expectativas, por surpreender com seus temas e movimentos, não há preço. Ou valor. Ou reciprocidade, medíocre, que me estimule ou me impeça de SENTIR a Poesia que existe aqui.

      O que quero dizer é que graças a toda essa indiferença, ou carência de reciprocidade de respeito, carinho, admiração, e por que não, também, de amizade, é que tenho o prazer de experimentar a poesia que leio aqui e que tiro o máximo de proveito. E tanto, mas tanto, que às vezes me sinto como uma ingrata, ou oportunista. Porque não tenho nada, absolutamente nada para oferecer em troca por tanto conhecimento.

      E, de repente, o Poema, antes livramento, se transforma em liberdade. Liberdade para ser eu mesma, para dar tudo aquilo que eu sei que tenho condições de dar sem a preocupação em ser mal ou bem interpretada, em ser aceita ou criticada, aprovada ou reprovada. E tudo isto, só porque o que prevaleceu foi justamente o “Sumiço dos Afetos”. Por sorte.


      Bom fim de semana.

      Eliminar
  2. Realmente a amizade está sumida.....
    O que escreveste é de profunda reflexão e ao mesmo tempo um alerta para os sentimentos que se vão apagando....

    Bjgrande do lago

    ResponderEliminar
  3. Os meus melhores amigos são os atuais, aqueles que fiz na internet (bloggers, twitter, facebook, dihitt), pois gratuitamente, de coração aberto, sempre falam comigo, se importam comigo, são agradaveis, enquanto os outros que conheci há tantos e tantos anos, nos momentos mais tristes de minha vida, sumiram.

    Beijos

    ResponderEliminar