terça-feira, 15 de janeiro de 2013

...de Neve e Fogo!


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…abria-se à cisão de sua fria vontade,
Sentindo-se possuir por um calor imediato,
Calor que lhe ia arrefecendo cada parte,
Das quentes partes abertas à ansiedade,
Abertas docemente ao desejo grato,
Da ligação no momento exato,
De sua necessidade!...

… muitas vezes somos bonecos de neve,
A derreter entre os lábios do inferno,
E antes que o desejo do diabo nos leve,
A.pagamos o fogo que o céu nos deve,
   Com as chamas mais frias do inverno!...

Pagamos o que apagamos,
Dívidas impossíveis de pagar,
  Apagadas do que desejamos,
Frio com que nos queimamos,
   Ou fogo capaz de nos gelar!...

…dois bonecos de fogo,
Brincam com a neve que os extingue,
   Na lascívia de um estranho jogo!...
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4 comentários:

  1. Ao ler, fiquei bastante impressionada. Encontrei para mim, uma grande verdade, que me fez refletir. Este trecho abaixo, me disse muito. Como gostaria de ter escrito. Que você é muito inteligente eu já sabia, mas quando eu compreendo e sinto, eu acho mais fascinante a escrita.
    "Pagamos o que apagamos,
    Dívidas impossíveis de pagar,
    Apagadas do que desejamos,
    Frio com que nos queimamos,
    Ou fogo capaz de nos gelar!..."

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  2. Prazer, diversão e jogo permeiam o universo recriado liricamente por d’Alma, e “...de Neve e Fogo!”, produto de uma percepção evoluída por transcender sensações, soma continuidade a um evento inesperado, ou encontro, marcado pela tensão entre a sucessão dos versos e as reticências que não o limitam.

    Amparando-se em símbolos antagônicos entre a natureza, ou o clima, e a realidade humana, o gelo e o fogo, o corte e a sutura, céu e inferno, virtude e pecado, débito e crédito, e um estranho desejo, do corpo, exercem sobre o poema um poder de inclusão, ou complementar, pela assertiva mais fácil de ser definida ao considerar sua oposição. Como o próprio processo de aperfeiçoamento ou conhecimento, pela qual todos nós passamos durante essa breve travessia a qual nomeamos de vida. Ou de viver, caminhar; acertar ou errar; amar ou não; ser feliz ou infeliz.

    Por mais fria e indiferente que possa parecer, e é, a expressão do desejo é de uma frágil resistência. Ou até que faça desejo ou vontade. Impossível fugir, ou ignorar, o eco causado pelo tormento que se faz presente na cisão, e como resultado, o conflito cristão. E depois cobrança, sem pagamento, na comunhão da carne em cumplicidade, ou assistência cúmplice, sentenciada pela condição humana. Tortuosa que seja, o percurso é inevitável àquele que espera ter na pele o gelo derretido pelo fogo [“A.pagamos o fogo que o céu nos deve, / Com as chamas mais frias do inverno!...”].

    Resta a cicatriz, no sacramento da confissão, pela admissão do pecado e consequente remissão. Ou não! [“Pagamos o que apagamos, / Dívidas impossíveis de pagar,”], traduzindo ruptura e sutura, e esta última, com uma linha tão incandescente, onde o fogo e o gelo, ainda que opostos, se comprimem numa mesma unidade. Mais que geográfica. Física, pela poesia resplandecente de grande intimidade artística. Sem nenhuma estranheza.


    Lindo poema A.!

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  3. Brilhante!
    Utilizando como mote palavras completamente opostas, consegue imprimir ao poema um equilíbrio emocional que lhe dá, simultâneamente, força e suavidade apaziguadora.
    Parabéns, poeta!
    Abraço.

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  4. É verdade mesmo que há fogo que nos pode transformar em gelo...e há gelo que queima como lume conforme as mãos que o tocam.
    difícil comentar o que apenas se deve sentir...e cada um sente de maneira diferente.

    Um beijinho
    Sonhadora

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