segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mesmice & Tédio

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Chamava-se mesmice,
Tinha o hábito de não saber porque corria,
Ao encontro do filho único da senhora rotina;
Costume, amigo rotineiro que sempre a perseguia,
Em tão sua habitual sujeição de inflexível monotonia,
Era um marasmo enfadonho de indobrável esquina,
Sempre à espera que a mesma de sempre o visse,
E antes que do mesmo modo escapulisse,
De igual modo traçava sua sina,
     No percurso que o seguisse!...

Num dia aos demais igual,
Mesmice fora vítima de assédio,
O amor à primeira vista foi consensual,
Decidiram-se pelo normalmente usual,
Se casar era o costumeiro remédio,
    Viveria para morrer de tédio!...

Ainda hoje não sabe porque corre,
Na certeza dessa incessante rotina,
     De saber que nesse labirinto morre!..
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Saliências

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Há saliências de outra vida,
Suspensas na vertigem de meus pesadelos,
Sonho que sou cor apressada a escorrer de meus cabelos,
E deixo tingir-me por brancos intermináveis!...
Há saliências de outra vida,
A fugir ao próximo voo a que me dou,
Sonho ser pena arrancada do pássaro que sou,
E sou a leveza de braços insustentáveis!...
Há saliências de outra vida,
Afundadas em parte incerta de meus apelos,
Sonho afogar-me e sendo água que algures se escoou,
Flutuo no vapor submerso de entoações frágeis!...
Há saliências de outra vida,
Nas palavras inaudíveis de um invisível diálogo,
Sonho-me entre vários em perfeito monólogo,
Com permissão para discordar do prólogo,
E, consoante meu sonho análogo,
Sonho ser vogal de mim!...
Há saliências de outra vida,
Saliências sem fim,
No fim do começo da vida que reencarnou,
Sonho que sou Alma de entrada,
Do sonho, sonho de saída,
E entro até à saliência,
Da outra vida pela saliente demência…
Sonha-me o sonho que sou tudo e nada,
Do nada da saliência escondida,
Sonho que sou carro e estrada,
E outra vez saliência,
Rio furioso e terna jangada,
Rio desencontrado da margem perdida…
Sonho que sou corrente sonhada,
Prova diluída,
Promessa quebrada,
Fé cega e científica minudência!...
Sou vida do sonho que sou,
Porção de minha existência,
E de outra,
Sou outra vida e...
    A própria Saliência!...


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domingo, 20 de janeiro de 2013

Corno - Confidente Virtuose

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Vindo do nada bem guardado,
Sussurrou-se um recado manhoso,
Bem escondido no céu-da-boca anuviado,
“Lábios mornos beijaram lábios de um corno”,
 Chaves do beijo franquearam um infinito portal,
Revelando beijos escondidos no segredo sideral,
Ciciados entre cornos da lua em silêncio sinuoso,
Ao alcance de um confidente ciúme nervoso,
Perdido na utopia da viagem com retorno,
Onde outros beijos se fizeram adorno,
    De lábios etéreos na boca desleal!...

Quando nas bocas caiu um silêncio sinuado,
Os lábios de pedra desfizeram-se em pó sinuoso,
Da língua levantou-se pó de um confidente curioso,
Deram-se as palavras ao consentimento da morfose,
E do pó se fez olhar aberto ao veneno ruidoso,
    Completude de um confidente virtuose!...

Segredou um corno da Lua,
No crescimento do quarto lunar,
Á ponta de outro corno da Lua,
Ter visto a noite que era sua,
Ser beijada pelo luar...
                                                              Toda Nua!!!!...
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Custo da Altiva Vez

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-Sou folha da árvore que sou,
Folha que cai dentro de mim,
Sou árvore nua que me vou,
Desta terra mãe onde estou,
     Deixo minhas raízes sem fim!...

Sou o Ser de meu ser com raiz,
Ser de ser Árvore e ser o fruto,
Sou o tudo ser do ser que quis,
Ser como ser árvore e ser feliz,
     Sou em Vida o meu verde luto!...

Fui Raiz enterrada ainda viva,
A causa de vida à existência,
Fui-me tão única alternativa,
    À minha vida verde de diva!...

Na sombra de minha demência,
Fui jejum de minha penitência,
Alimentei a minha raiz sensitiva,
    Com seiva de minha clemência!...
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-Era uma árvore altiva,
Vivendo à sombra de sua altivez,
Não era, amigo arbusto?...
-Sim, arbusto amigo,
Concordo contigo;
Sem sol que iluminasse sua pequenez,
Sua vontade de ser não foi impeditiva,
De tombar por falta de lucidez!...
-Diz-me, amigo arbusto,
Qual o preço a pagar pela altivez?..
-Sem ter a certeza de ser justo,
Há uma relação, talvez,
Na distância entre a raiz e altiva vez,
Quando lá muito do alto... e do susto,
Não ver suas raízes e cair,
Por desmesurado subir,
     A qualquer custo!...
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