quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pícaros Angustiados

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Pícaros angustiados,
Abraçam braços cruzados,
Assinatura de braços fechados,
Firmados com fios de frágeis enleias,
Esperam carícias por enlevadas ideias,
Crescidas em cérebros financiados por teias,
Grossas de sangue entre açúcar de veios arrastados,
Derrames de doce veneno que lhes corre no gelo das veias;
Escorrendo na consciência retórica de eufemismos extasiados,
Vendem-se orgasmos dos insaciáveis objetivos alcançados,
Em vez do preservativo consciencioso das assembleias,
Barrigas de aluguer prenhes de imunidade às cadeias,
Bastando que por todos os meios sejam abusados,
Humanidade perfeita pelas razões mais feias,
   E os dignos direitos dos eternos violados!...

Vozes trémulas oferecem geleia de confiança,
Tingem ávidas papilas com gostos distintos pelos corantes,
Maçãs azuis e morangos violeta matam a fome de uma criança,
A ilusão da consistência tem uma trémula e doce semelhança,
Com a amargura de uma digestão difícil rica em diamantes,
Enfeitados com esperanças de ouro e salvas radiantes,
   Salvação das ilusões nas cores negras da Esperança!...

Na vanguarda da frenética tecnologia,
Luz é um jogo de trevas num tabuleiro do tempo,
Jogado pelo pó secreto de uma esotérica maçonaria,
Que apostando nas mecenas vitórias do etéreo momento,
Faz valer sua silenciosa vontade do receptivo argumento,
Comprado pela influência escondida na corrupta teoria,
Demonstrada na prática com novos jogos de ironia,
   Dividendo angustiado disfarçado no orçamento!...

Há privilégios interditos que nos respiram,
Medos em nós que asfixiam o ensaio do abraço,
Há uma côdea de pão bolorento num olhar de cansaço,
Tristezas escondidas na vergonha dos amores que fugiram,
Há fingimentos primitivos em corações que desistiram,
    O prócer molda cérceas no corredio nó do abraço!...

Há um pai de ninguém na angústia dos lazarados,
Senhor absoluto que nada dá do que dele merece dar,
Apostando o futuro perdido de quem não pode jogar,
Dando angústias aos Pais que deviam ser venerados,
As mesmas angústias marcadas nas faces dos dados,
    Viciados por pícaros de sorte, mensageiros do azar!...

Há angústias irradiando felicidade,
Longe da vista de quem não as vê chorar,
    E tão perto de angústias sem identidade!...
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3 comentários:

  1. Como leitora, debruço-me sobre "Pícaros Angustiados" e retiro-lhe diversos compartimentos; versos soltos, um dito, uma vertente, e faço de cada saber desse poema uma lição diferenciada. Umas vezes de economia, outras de admiração histórica, ou um estudo de caso a uma época específica, uma análise literária ou de discurso. Mediante todas essas possibilidades tenho a sensação de que não estou diante um poema, mas de um tratado filosófico. Nenhuma surpresa.

    Seu estilo requintado exige o elogio, ou a admiração, mas dificilmente vou alcançar a dimensão da unidade, ou do conteúdo, que, por mais que aponte à multiplicidade e ao dedo à face, no fundo, ou principalmente, é da sensibilidade, e da sua solidariedade à coesão utópica do uniVerso.

    E tantos são os braços de espera, e tantas são as esperas. Mas o Poeta existe. A Arte também. Perdida a esperança, resta a Poesia. E toda a sua fé no legado estético. E então, revolvo-me à paisagem. Há chamas admiráveis. E luzes que, como testemunhas do presente, ao examinar o passado, acendem o futuro.

    Sem demora, e sem nós ["Medos em nós que asfixiam o ensaio do abraço,"], deixo o abraço. Bom dia A.

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  2. « Há angústias irradiando felicidade»
    há lágrimas que caem sem ser vistas,
    em olhares migrantes pela incerteza,
    em passos errantes por estradas sem luz.

    Há risos fechados em celas escuras,
    na desesperança de dias que caem
    pelo abandono em cantos de frio,
    onde Amor deixou de fazer já sentido.

    Ainda assim,há résteas de sol
    que irradiam PAZ,como uma oração.

    Parabéns,A.Pina.
    Um abraço
    Aurora

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  3. A angústia que nos persegue e nos afronta...
    BShell

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