sábado, 10 de março de 2012

Na Pdocura...

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“Estive com todas onde estiveste,
À espera que nunca mais voltasses,
Todas elas me deram o que me deste,
Mas jamais alguma fez o que me fizeste,
Desaparecida fosses quando pensasses,
Em fugir de todo teu Amor se amasses,
Quem te queria e sempre quiseste,
     Sem querer que com elas ficasses!...

E se é por ti que sempre passo por lá,
Pelas tuas entre-coxas onde tu não estás,
Talvez entre teu ninho que a mim não se dá,
Por respeito ao prazer ausente que por ti se faz,
É também pelo regozijo que deste por quem está,
Ainda à espera que pelos desejos delas te soltes,
E que pelo teu desejo ao desejo delas te dás,
Esperando para que só por ti não voltes,
E mesmo que por mim não te vás,
Não voltas para que eu não me vá,
Como se pedisses que por ti eu fique por cá,
      Fazendo-te presente na ausência que te trás!...”

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Baseado na eterna luta,
Do surpreendente Amor verdadeiro,
De um educado e sensível cavalheiro,
Pelo Amor dedicado a uma doce puta,
Que por Amor mudou a sua conduta,
     Deixando de dar prazer por dinheiro!...

Ainda hoje continua a sofder,
Aquele Homem que pdocura em todas as putas,
   A Mulher que por ele, puta deixou de ser!...

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1 comentário:

  1. Configurando-se num entrecruzamento de linguagens, como se as aspas pudessem proteger o poema da poesia, ou separá-los um do outro, ou da omissão do amor que se revela, “Na Pdocura...” oferece, além de diversas leituras de nível social, uma observação privilegiada sobre a subjetividade contida numa controversa objetividade. Ou vice-versa.

    Entre elas, destacam-se a releitura de valores e a ruptura do modelo social estigmatizado que condena o amor que foge aos seus estereótipos, porque, enquanto a sociedade preconiza a prostituição como discriminação e limita a sedução à mercadoria de consumo, a poesia, movida pela paixão como produto de uma razão que se confirma pelo sentimento e pela sensibilidade, é eleita à personagem principal [“Do surpreendente Amor verdadeiro,”].

    Mas é já a partir do título que d’Alma desencadeia uma alternativa de reflexão que se assenta a duas realidades: Ao substituir a letra ‘R’ pela ‘D’. E, às duas todo o encantamento da poesia. Como efeito diverso, o poema demonstra o quanto ainda tenho de aprender com a poesia que me diz que, somente experimentando sua linguagem é possível instaurar uma nova dimensão para ela, e nunca, nunca a uma categoria imutável ou inflexível. Como a própria vida. Como efeito conclusivo [“Ainda hoje continua a sofder,”], no excesso também há falta, mas na falta nenhum excesso pode ser idealizado como carência.

    A escolha, essa, continua sendo nossa. Ou da leitura que faço.

    Cumprimentos, d'Alma, pela excelência da poesia.


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