segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Pai natal

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O Inverno pressente-se muito perto...
Partilhemos algum desse nosso  calor,
Pese embora, nos achemos , decerto,
Íntimos arrefecidos deste peito aberto,
Expostos à neve branca de muita dor,
Disfarçada de um vermelho impostor,
Esse quase santo demasiado esperto,
Bonachão dos pais donos de riqueza,
Padrasto por mimo de mães coberto,
Pai natal cheio de negro e frio interior,
Esquecido dos pobres com fria crueza,
Deixando embrulhos vazios à pobreza,
Sonho de todos os dias com fé e fervor,
Inocência colorida de um crer sonhador,
Sincera crença acarinhada com a certeza,
De receber daquele mentiroso senhor,
A única prenda da inocência indefesa,
O simples desejo de receber só Amor!...

Afinal, o diabo desse barbudo muito lindo,
Trás coca-colas cheias de desejos consumados,
Pelo suor dos  verdadeiros Pais que foi consumindo,
Entra no coração aliciado a rir e da tristeza sai rindo,
E tudo que que dá é nada aos pobres coitados!...

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Algures um menino pobrezinho,
Ri embrulhado num calor de felicidade,
Abraçado por Pais felizes cheios de carinho!...
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2 comentários:

  1. “Pai natal” transcende o clima natalino e projeta-se na intimidade de minha infância. Insisto no verde. E no vermelho. Mas o que encontro não é um Papai Noel, é um padrasto [“Bonachão dos pais donos de riqueza,” / “Padrasto por mimo de mães coberto,”]. Contrariando minha temperatura ambiente, faz frio, e experimento a poesia e suas diVersas possibilidades de manifestação.

    Não é à toa. Há a intenção.

    Pode parecer um tanto repetitivo falar sobre a importância da poesia d’Alma na minha vida. Primeiro, como leitora e admiradora, depois como discente, procurando estabelecer um vínculo entre o prazer da leitura e a lição. Não é um elogio. Nunca foi. É a verdade. É a minha capacidade de transformar em aprendizagem o que a vida já me esgotou em possibilidade, e de repente, por uma leitura de um poema, sou atraída por outros sentidos, pela significação da poesia que me acena a outras direções. E todas elas didáticas.

    Tematizando os aspectos do consumismo [“Trás coca-colas cheias de desejos consumados,” / “Pelo suor dos verdadeiros Pais que foi consumindo,”] da tradição de uma sociedade de estimular a troca de presentes na noite de Natal, temos a atenção desviada do verdadeiro sentido desta data tão especial: o nascimento de Jesus Cristo.

    E sorrio, outra vez, admirada. O tempo é de crise. Atingir a compreensão do verdadeiro sentido do Natal não só livra-nos do consumismo, como também leva-nos à reflexão. Nenhum presente substitui o afeto. A confraternização é da comunhão com o verdadeiro significado do Natal, não com os materiais.

    O objetivo do processo de criação é a criatura. A poesia d’Alma é da humanidade. Sua generosidade não tem limites. À semelhança d’Alma que possamos dar graças a Deus [“Abraçado por Pais felizes cheios de carinho!...”], abraçar quem for de abraços e beijar quem for de beijos.

    Afinal, Papai Noel existe.


    ¬

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  2. De facto a diferença entre o Pai Natal que tudo dá a uns (ricos)e o que falta a outros (pobres), mas pode ser resgatado pelo Amor. Será apenas mais um Natal dos Simples. Poesia muito rica, muito incisiva, muito real e forte, cheia de verdade.Adoro!

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