quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Trapos...


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Velhas...
Muito envelhecidas por tanta cultura,
Palavras à condição sob tortura...
Velhas...
Sombras de palavras com muita ternura,
Luz emanada de seu viçoso epicentro,
Carne viçosa dos jovens corpos velhacos,
Muito jovens por fora de seus interiores fracos...
Velhas...
Por dentro,
Onde se rasga um coração de trapos,
Resto que de resto se mistura,
Com a graxa que tece desejos opacos,
Brilhando por fora...
Velhas...
Jovens palavras de outrora,
Tecidos intactos os cacos,
Partidos na chegada do medo da hora,
Que se vai rasgando na demora...
Velhas...
Pesadas nos estilos antigos da figura,
Figura de estilo na metáfora de quem atura,
O declínio da sapiência,
O saber das palavras de boa aparência...
Velhas...
Com amargura,
No atrito do discurso em decadência,
O amargo sabor da velha doçura,
O regresso revoltado à inocência,
De difusos vultos...
Velhas...
Palavras vestidas com andrajos consternados,
Farrapos caídos do tecido dos corpos cultos,
Tenros corações que restam...
                                                                       esfarrapados!...

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1 comentário:

  1. Se, é do poema “Trapos...” a liberdade da inquietação que emana da consciência intelectual e artística fundamentada na pluralidade de linguagens que d’Alma não poupa esforços em denunciar, é da singularidade do recurso literário que a poesia acontece, na crítica à falta de qualidade inovadora, à exploração desmedida do arranjo técnico e às diversas inadequações de uso de um vocabulário que teve seu prazo de validade vencido pela idade cronológica motivado pelo cotidiano ideológico e psicológico.

    Onde falta exclamação, sobram reticências à ação poética que rompe com o espaço em branco entre as estrofes para anunciar a necessidade de novos códigos e novas formas de socialização necessárias à comunicação, na riqueza de um conteúdo que tem a obrigação de vencer a constância linguística, não como mero indicador de modernidade, mas como possibilidade inventiva de sensibilização.

    No mínimo, polêmico. Mas imprescindível como alternativa para redimensionar a importância da linguagem num universo cada vez mais restrito de criatividade e acumulativo de opacidade. Afinal, a poesia d’Alma é da transparência e da sensibilidade, da inovação de temáticas que podem escapar ao entendimento, mas nunca à compreensão de que é pelo bem. Do leitor, da linguagem e da razão.


    ¬

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