domingo, 27 de novembro de 2011

Algures... virtualmente

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Algures entre o universo virtual,
E os descalabros do vosso inconsciente,
São paridas humilhações enerves em ritual,
Fecundadas no caos cego de um vazio abismal,
Ansiosos por espalhar veneno de perdida semente,
Na plácida luz extinguida de um sofisma vidente,
Tecendo ramos no plexo sanguíneo do desejo carnal,
Em transfusão muda de um eco deprimente!...

Algures entre o universo virtual,
E os diversos paraísos que vós desejais,
Apaga-se Alma lúcida na dor do sentimento,
Esperança desalmada nos vícios do tormento,
Por desconhecerdes o vosso misterioso final,
No melhor de vós guardado em mistério igual,
Corações desterrados em vossos medos capitais,
Apostando toda a carne fraca nos desejos carnais,
Em riscos de morte indigna por uma réstia vital,
Salva na miserável vida escondida que vós levais,
Como se o tão fingido orgasmo social do momento,
Fosse fatal salvação de vosso traído pensamento,
Traição culpada em inocência de disfarce fatal,
Esquecendo de esconder um denunciado sinal,
Sinal esse que na massa da vergonha é fermento,
Fodendo o pão seco de conquistados comensais,
Ávidos por violações sobre purgados corporais,
Porque o prazer é leite de cabra sem moral,
Com borbulhas de cuninlingus menstruais,
Em engates de desencontros casuais!...

Algures entre o universo virtual,
E os desejos indecifráveis de vosso corpo,
Açoitado por descontrolados vícios do mal,
Serpenteiam viscosas bifurcações doentias,
Emprenhadas por ignóbeis pregões de porcarias,
Espreitando da álula lânguida do desejo mais porco,
Para lamber o gozo soez de um amor já morto,
Na perdição das mais desesperadas fantasias!...

Algures entre o universo virtual,
E a realidade amariçada da covardia,
Esconde-se uma verdade animal que porfia,
Disfarçando um engonço de coragem digital,
Despido daquele movimento de virtude natural,
Que troca pómulos rosados por esquálida alegoria,
Retórica de vagidos em tua maturidade bestial,
Abortado merecimento de desengonçada harmonia,
Caído da troca obscura da noite por tisnado dia,
Perdendo-se o significado no crepúsculo literal,
Do Amor que escureceu numa morte matinal!...

Algures entre o universo Real,
E a mentira de vossa fingida dor,
Dá-se o aval a um sentimento virtual,
Mais forte do que o Amor!...

Será esta a realidade procurada no prazer a esmo,
Desvirtuando o Amor no defeito reprimido de si mesmo?!...

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2 comentários:

  1. Temática “simpática” esta Poeta! Porém, tenho por mim que, não há dois mundos diferentes, posto que ambos são habitados pelas mesmas pessoas. A diferença, a existir, parece-me ser meramente semântica. A base empírica reside no comportamento, na atitude, no entendimento, e na própria posição de cada um de nós,[também] neste universo virtual. Cabe exactamente na nossa consciência, respeitar a honra, a integridade moral, a liberdade e os demais direitos e preceitos, de modo a que possamos conviver em perfeita harmonia; só assim nos será possível e fácil interagir com os demais; eis a tónica, nem tudo é permissivo e/ou tolerante só pelo facto de se estar à frente de um computador, sem qualquer contacto físico...

    De todo o modo gostei “Modus Operandis” …um poema, abundante na sua métrica, metáfora e tonicidade. Outrossim gosto do que escreve…

    T’Abraço daqui Poeta
    Boa semana..

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  2. O desconforto causado pela leitura do poema "Algures... virtualmente" faz com que eu pense antes se deveria realmente registrar essa sensação. Por todos os motivos, mas o principal deles é pelo nick que utilizo. Por outro lado, senão assumo minha dificuldade, gerado a partir desse desconforto, corro o sério risco de permitir que minha defesa não seja levada em conta. Pelo nick. Nunca pelo silêncio próprio a quem julga temer a acusação.

    E mesmo que seja do dedo a dúvida, a consciência é do mundo real, mas também do virtual. Prevalece então, senão a defesa, o direito de defesa à verdade sobre aquilo que tenho vivido, e de certa forma me permitido a dividir, ou compartilhar, através de um comentário, e aqui, neste caso, reconheço que muitas vezes aceito com alguma resistência, e também com tudo aquilo que escrevo em meu blog, que se chama “virtual.epee”, quando na ocasião de sua abertura, a opção pela discrição se fez necessária como medida preventiva, ou como cautela, por questões íntimas que não vêm ao caso.

    Hoje sei que cometi um erro e aos poucos tento repará-lo. Mesmo que a rede não ofereça nenhuma garantia de anonimato, somos facilmente reconhecidos. Pela linguagem, nos termos comumente usados, na forma de assinar um comentário, ou uma postagem, uma frase em coerência com nossa personalidade ou nossas preferências, e principalmente nossas influências culturais, e qualquer intenção de sigilo é questionado. Então, de repente, todos os dedos do mundo se parecem como um dedo. No mundo. Claro que não é uma regra e não é da prova dos noves foras que os zeros se omitem. Nessa conta, inversamente proporcional, os zeros somam-se à inutilidade de algo que quase sempre me escapa. Há exceções. E exceções maravilhosas. Mas infelizmente há quem faça de seu discurso um grito, e há quem faça de seu silêncio, outro grito. Ambos gritam. E pouco se entende o que foi discursado, ou falado.

    Às vezes me pergunto de que lado estou, se do lado de quem grita alto, ou em silêncio. Mas só até o instante seguinte de me lembrar de que foi aqui, neste mesmo palco, que fui compreendendo, aos poucos, entre uma lição ali e outra aqui, pela poesia d’Alma, que não era o volume de meu tom de voz que importava, mas sim, e sempre, a qualidade de minhas expressões usadas para ser ouvida. Implicitamente tudo se resumia na sinceridade. Explicitamente na verdade. Não doía falar a verdade, mas doeria se tentasse mentir, ou tripudiar.

    Voltando ao tempo, nessa análise comportamental de minha trajetória nesse espaço chamado virtual, não há como fugir, não vivo entre dois mundos à minha disposição, embora reconheça os limites de um e de outro. Se há distinção, continua sendo pela discrição, nunca pela pretensão de ser quem não sou, ou permitir transparecer o que não sou.

    Inegável o talento da poesia d’Alma. E concluo, outra vez, o dom da poesia quando utilizada de forma lúcida e consciente, sem se preocupar com a fama ou com a plateia, a favor daquele outro, próximo ou distante, tem um poder decisivo em nossas vidas.

    Na minha, curativo.


    ¬

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