sábado, 8 de outubro de 2011

Jesus [segundo]

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Anjo negro,
Juiz novo,
Ergue-se lento,
Esmaga o ovo,
Escolhe e do além te chama,
Acusa-te de ser estorvo,
Culpa-te de ídolo sem fama!...

Anjo negro,
Juiz novo,
Ergue-se lento,
Cospe fogo,
Aponta o destino e o punho cerra,
Vagueia frio sem razão,
Pesado sem tocar o chão,
Por entre as rugas da terra;
Não rasteja,
Não voa,
Não reza…
Não perdoa!...

-Porquê?!...
Pensas tu com medo,
Sem veres que já não vês o mundo,
E ele diz: -Sou rei Jesus II (segundo)
Será este teu último segredo!...

Botas negras, duras, brilhantes,
Sandálias de pescador gastas,
Esquecidas,
Pó velho de novas castas,
Redenção,
Negação de raças distantes,
Revolta das batalhas perdidas,
Brilho de ódio-estrela,
Sombra sobre vidas,
Diamantes,
Novos milagres,
Voluntários suicidas!...
Qual peixe?!...
Qual Pão?!...
Milagres?!...
Não…  belos monstros covardes!...

-Porquê?!...
Pensas tu com medo,
Sem veres que já não vês o mundo,
E ele diz: -Sou rei Jesus II (segundo)
Será este teu último segredo!...

 Chuva que não molha,
Chuva que queima,
Miudinha,
Cevada que pinga no fumo que te olha,
Chagas profundas cobertas de morfina!...
Milagres?!...
Pão?!...
Rosas?!...
Vampiros alados!...
Adeus mariposas,
Adeus pelicanos,
Adeus cravos, trevos e mimosas,
Adeus amores perfeitos, adeus rosas,
Adeus cores e aromas de mil planos,
Adeus brancas pombas...
Saboreiem este cocktail de bombas!...
Adeus Humanos!...

Milagre!...
Milagres novos,
Chocam outros ovos,
Aninhados bem lá no fundo,
E ele diz: -Sou rei Jesus II.

Fraco, encosta-se a ti,
Abre os olhos ao negro céu,
Olha tuas lágrimas nos olhos e sorri,
Baixa a cabeça, escorre-lhe o véu!...

Abraças aquele alívio profundo,
E dizes: -És rei Jesus II (segundo)

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2 comentários:

  1. Chorei...agora..
    ...e não consigo...ver o teclado..

    Desculpa, não condigo escrever mais.

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  2. Se, na escritura, Jesus Cristo viveu dando cumprimentos à lei de Deus e adaptando-a ao nosso adiantamento, morreu e ressuscitou dos mortos para nossa salvação, o poema “Jesus [segundo]” chama a atenção pelo título e pela temática, no discurso, ou no diálogo, literário e religioso, a ‘oração’ é prerrogativa da poesia cristã, na associação propositada à comparação entre o divino e o humano e no sentido oposto da desconstrução de um à construção de outro, aproximando seus contrários [“Esmaga o ovo,” e “Chocam outros ovos,”] e nivelando as diferenças que se sobressaem no conflito da religiosidade do homem pecador e frágil na hora de sua morte [“E ele diz: -Sou rei Jesus II (segundo)” e “E dizes: -És rei Jesus II (segundo)”].

    Há um choque cultural [“Sandálias de pescador gastas, / Esquecidas,” e “Adeus brancas pombas... / Saboreiem este cocktail de bombas!...”], até pela complexidade do tema, afinal, o que conhecemos do Jesus anterior ao segundo é um Pai de amor, de infinita bondade e misericórdia. A relação, entretanto, não se resume entre o primeiro e o segundo (Pai e Filho), mas entre o que a religião ensina (divindade) e o que se inscreve como real (humano), na negação da crença a favor da vida. Ou, negação da morte, oportunizando uma reflexão essencialmente espiritualista.

    Apesar de toda a fragilidade, o conforto é poético e cristão. E se na escritura o Pai de amor não abandona seus filhos na hora de sua morte, a poesia também não [“Abraças aquele alívio profundo,”], ou porque é escrita pela razão d’Alma, ou porque é uma realidade da qual ninguém escapa. Ou ambos.


    ¬
    Bom domingo, d’Alma.

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