domingo, 30 de outubro de 2011

...Jaz

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Aquele magro rosto cansado,
De uma pálida serenidade natural,
Adormeceu na tristeza de um leito fatal,
Entristecido pela beleza de um Outono sulcado,
Na despedida serena de um derradeiro adeus finado,
Pintado nas cores caídas daquele sorriso final!...

Uma imagem caída de Outono,
Despedida de qualquer desejo sem dono,
Abandonada ao vento frio que parado a acaricia,
É inerte imagem adormecida de uma memória sem sono,
Finalmente despojada da insónia que sobre cetim adormecia,
Eterno repouso branco da infalível e sempre eterna profecia,
Sepultada na crença ressuscitada de predições ao abandono,
Das cores verdes da primavera emprestadas num assomo,
De Esperança na esperança de ter vivido mais um dia!...

Uma lágrima de cera liquefeita,
Jaz na queda de uma folha desenhada,
Nas últimas linhas de uma página desfeita,
Tangida pelos sinos em despedida imperfeita,
Dobrando pelo lúgubre fim daquela folha rasgada,
Um pedaço de terra indiferente caída da lágrima cavada,
Que a cera de hora sem tempo ao fim do tempo foi sujeita;
Voam pássaros negros numa interrompida lágrima congelada,
Pairando no vazio do nada que no nada dos olhos se deita!...

Envolta em silêncio jacente,
Cobria-a um murmúrio cinzento,
Abafado por um letárgico desalento,
De consentido e meigo sopro clemente,
Último influxo de cera esvaído num momento,
Derretendo na tristeza de um regresso comovente,
Acariciado pela suave brisa que a pousou levemente,
Sobre uma folha de Outono levada pelo vento!...

Fecha-se a saída à folha onde o corpo jaz,
Entrada fechada às lágrimas em seu redor,
Deixando que pranteadas chaves de Amor,
Reclamem lembranças de um sorriso fugaz,
Entre os portões abertos em alvores de Paz,
Recordações felizes libertadas daquela dor!...

Uma folha de Outono levada pelo vento,
Afagando carinhosamente as faces primaveris do rubor,
Oferece uma nova Alma que voa nas asas do alento!...

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4 comentários:

  1. ...por que raio... folha d'Outono!!!


    Por mim,
    Que tanto se me dá…
    Publiquem a sentença do Poema…
    Sob pena,
    de me transformarem estátua de sal..

    T'Abraço...

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  2. 'Acredito na força das palavras... Oie sou Denise Rodrigues,estou começando agora a escrever e gostaria de amigos,e quem sabe talvez com mais audácia 'leitores'..se não for muito incomodo gostaria de seguidores,eu sigo também (deixa recadinho q vou atras e sigo).. obrigada pelo empurrãozinho de antemão,seu cantinho é lindo por isso parei um pouco por aqui! bjs Uma ótima noite! Denise Rodrigues

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  3. Olha...fazes-me chorar...porque sinto tanta dor em cada palavra...e olho à minha volta e a dor é ...tão parecida!!!

    Te abraço forte!

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  4. Gostaria de abrir meu comentário esclarecendo que carreguei durante todo o dia, no bolso e na cabeça, o poema, e dentro do corpo as experiências, onde o passado em confronto com o presente sinalizava as intercorrências recentes. Era preciso ler “...Jaz” desconstruindo a ideia inicial da elegia, e assim, tentar me afastar da melancolia e superar minha ignorância. Essa confissão se faz necessária porque a poesia d’Alma emerge na minha vida como um processo de associação e envolvendo-me sob a força da transferência, tem o poder de me despertar para uma ‘outra de mim mesma’.

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    A matéria poética do poema é de finitude corporal, mas d’Alma subverte a ordem e reinicia um processo de construção simbólica, convocando à imaginação e à sensibilidade que se expressa na recepção de cada leitor, tendo em vista que entre a leitura e a experiência, existe a poesia de diVersas possibilidades para diferentes percepções, delineando um itinerário de dor e angústia para uns, alegria, inspiração e encantamento para outros.

    Pressuponho de que deve ser maravilhoso para o escritor acompanhar a evolução dos mais variados sentimentos que brotam em cada um que o lê. Como é maravilhoso ser espectadora dessa arte.

    De repente uma imensa sensação de paz invade-me nessa manhã, véspera de finados, e o que antes causava desconforto, por desconhecimento, frente à serenidade [“Afagando carinhosamente as faces primaveris do rubor, / Oferece uma nova Alma que voa nas asas do alento!...”] que predomina sobre a realidade que acena o sofrimento, o ato poético rompe com o luto e confere à poesia a imortalidade, minimizando o lamento favorecido pela época e confortando-me.

    E concluo que não basta ser POETA, é preciso ser também DIRETOR, e através da arte provocar descobertas de modo que seja possível re-Inaugurar a Vida a todo instante. Um privilégio d’Alma.

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