quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Órfãos


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Ninguém quis ter a coragem de escrever,
Sobre os pais órfãos acusados de nascer,
Ninguém escreveu sobre qualquer morte,
Nem do sangue que continuou a escorrer,
Das linhas abertas de sua abortada sorte!...

Hoje uma Mãe chorava lágrimas de Mãe,
Chorava seu filho no outro lado da prisão,
O escritor dá vida às páginas de sua ilusão,
Sem saber que seu filho escreve também,
As mesmas lágrimas filhas órfãs de alguém,
Atrás das grades no outro lado da solidão!...

Feita de cansadas lágrimas abraçou-se a mim,
Senti-me lágrima contida muito perto do fim!...
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2 comentários:

  1. Este teu poema expressa a dor...De um filho em prisão, de lágrimas que escorrem banhadas em dor.

    Achei comovente

    Bom fim de semana

    Bjgrande do Lago

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  2. “Órfãos” é um poema localizado na orfandade e na compaixão poética que tem como matéria-prima o amor maternal, onde o escritor e a poesia encontram-se para estabelecer uma espécie de genealogia à leitura que não é meramente receptiva, mas também ternurenta.

    A influência da orfandade no desenvolvimento de uma criança ou adolescente é um tema que desperta bastante interesse e atinge um público abrangente [“Ninguém quis ter a coragem de escrever, / Sobre os pais órfãos acusados de nascer,”]. Seu contrário, porém, apesar de não ser explorado, não chega a ser irrelevante [“Ninguém escreveu sobre qualquer morte, / Nem do sangue que continuou a escorrer,”], da mesma forma que o abandono, mesmo quando não é caracterizado pela morte, não ameniza a dor. Não é fisiológico, é enternecedor. É o poema quem sangra em solidariedade pela ausência dos filhos.

    O comportamento anti-social exige a penalização [“Hoje uma Mãe chorava lágrimas de Mãe, /Chorava seu filho no outro lado da prisão,”], a poesia transcende o mundo real, a arte é poética, mas é, sobretudo, solidária [“Feita de cansadas lágrimas abraçou-se a mim,/ Senti-me lágrima contida muito perto do fim!...”], porque é ela quem estende os braços e no abrigo, proporciona o conforto, d’Alma.
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