quarta-feira, 29 de junho de 2011

Linhas


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...Do corpo deixou-lhe a maciez,
E uma enlouquecida sensação,
Do cúmplice saborear da ilusão,
Possuída pela sua vestida nudez,
Nas linhas despidas de sua mão!...

Essas linhas entrelaçadas de cio,
Revestidas de imensos fios de tesão,
É vida imortal de um eterno arrepio!...
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1 comentário:

  1. A leitura do poema “Linhas” acrescenta à poesia uma relação de semelhança entre a figura poética e o corpo erótico e provocando novos sentidos, silenciosamente, constrói um duplo erotismo que alimenta alma e carne. Não oferece nenhuma uma espécie de prazer associada ao orgasmo, ou seja, à plena satisfação, mas a uma fruição que mais perturba que acalma, à história que é de tato e desejo.

    As reticências conferem aos versos a imaginação, começo e fim de um inesgotável e enigmático trabalho poético. Um órgão, o maior deles, [“...Do corpo deixou-lhe a maciez,”] e o tato [“E uma enlouquecida sensação, ”], principal via de estimulação erótica. Uma viagem. O corpo físico procura o corpo erótico, e ao encontrá-lo, a surpresa: a poesia está para o erotismo e o poema está para a sensibilidade. Sua leitura incomoda, porque aponta para um lugar que esconde senão verdades, ilusões, senão mentiras, desilusões [“Do cúmplice saborear da ilusão,”]. A ambiguidade, porém, seduz e provoca o sabor que prevalece independente de qualquer gosto, na cumplicidade que alivia e dita as regras desse jogo erótico à obtenção do prazer, onde o verso, essencial, veste a fantasia [“Possuída pela sua vestida nudez,”].

    O sangue lateja, rítmico, [“Essas linhas entrelaçadas de cio,”] na estrofe que sustenta a intenção, senão poética... poética! E aos poucos revela-se, através da sensualidade que move a poesia d’Alma, e seu erotismo convida-nos a penetrar no corpo do poema e fazer amor com ele. A criatividade excede o imaginário poético, a poesia é fisiológica e o poema, falangeal [“Revestidas de imensos fios de tesão,”]. E somos levados, mediante a expectativa de seu desfecho, no verso que contrai, às mais variadas sensações [“É vida imortal de um eterno arrepio!...”].


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