sábado, 21 de maio de 2011

Consumo

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Aproximem-se, sociedades de consumo,
Na compra de um irresistível preservativo,
 Ainda levam um brinde horizontal do prumo,
Aproxima-te, meu jovem curvado sem rumo,
Levanta-te à oferta pelo teu gasto excessivo,
Na compra da ilusão de um fogo sugestivo,
Ofereço-te irresistíveis cortinas de fumo!...

Vem, milagre recém-nascido,
Há carne nua em promoção,
Por cada pedaço consumido,
Levas dádivas cruas contigo,
Saboreia um pouco de ilusão,
Já provaste a doce ingratidão?
É grátis na perda de um amigo,
Por cada um que te leve consigo,
Muitas outras promoções virão!...

Despe-te do anticonceptivo,
Parte do planeta é o rasgado 1% prevenido,
Sobra uma aceitável porção de uma terra doente,
Probabilidade eficaz de um produto escondido,
Na oferta de uma venda transparente!...

Por favor,
Jovem consumidor,
Compra a anticoncepção que tenho para vender,
É garantida a gravidez que te vai surpreender,
Bem-vindos sejam a este mundo acolhedor,
Os teus números gémeos que vão nascer,
Filhos do capitalismo e seu amor!...
Não penses, caro benfeitor,
Na exaustão do teu querido planeta,
Não te percas no leve voo da borboleta,
Saboreia o suicídio em todo o seu esplendor!

Preservem-se do que a Terra sente,
Consumam todo o seu futuro já no presente!...

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6 comentários:

  1. Uma foto que tem muito que se lhe diga e que nos deixa a reflectir.
    Gostei do poema que o acompanha.
    Bom Domingo.
    Beijos
    Manu

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  2. Um discurso poético diferenciado marcado pelo consumismo e materialismo como meios de obtenção do prazer e o poema “Consumo” serve de instrumento à poesia d’Alma em defesa do desenvolvimento sustentável do planeta.

    Um anúncio publicitário [“Aproximem-se, sociedades de consumo,”]. Entre a realidade e a fantasia, a principal mercadoria de consumo: a utopia do mundo encantado [“Na compra da ilusão de um fogo sugestivo, / Ofereço-te irresistíveis cortinas de fumo!...”]. A criatividade atinge seu ápice nos versos que não têm o compromisso de reforçar ou negar verdades e não pretendem apontar certezas ou dúvidas, mas possibilitam formas de reflexão através da poesia de efeito satírico proveniente da crescente oferta de bens associada ao apelo irresistível da promoção [“Já provaste a doce ingratidão? / É grátis na perda de um amigo,”].

    A preocupação com a natureza e d’Alma cumpre com sua responsabilidade social na denúncia de práticas antiecológicas [“Parte do planeta é o rasgado 1% prevenido,”]. Imprescindível destacar a importância da matemática numa conta associada ao consumo desmedido dos recursos ambientais gerando a má distribuição de bens e consequentemente a desigualdade social [“Sobra uma aceitável porção de uma terra doente,”].

    A temática, com origem na mídia, reconhece que os jovens são seduzidos pelas imagens [wallpaper – marcas] e o consumismo à base de um universo essencialmente capitalista e frequentemente supérfluo, fortalecem o apelo de dramaticidade irrecusável [“Por favor, Jovem consumidor,”]. A terra e seus frutos. Contrariando o princípio da preservação do meio que garante a sobrevivência da humanidade [“Compra a anticoncepção que tenho para vender, / É garantida a gravidez que te vai surpreender,”], o verso realça, através dos opostos da poética d’Alma, [“Filhos do capitalismo e seu amor!... / Não penses, caro benfeitor,”] e marcam a omissão da consciência social ambicionada pela maximização do lucro.

    Entre a sensibilidade e a serenidade d’Alma [“Não te percas no leve voo da borboleta,”], na atitude imediatista, o fazer artístico abre novos significados à lição que não é apenas objeto de admiração [“Preservem-se do que a Terra sente”], mas, sobretudo, de conhecimento e atenção à natureza que está sendo destruída hoje, e que, portanto, não adianta pensar no futuro: “Consumam o seu futuro já no presente!...”.

    ¬

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  3. Meu caro amigo POETA;
    EXCELENTE poema, num tema que não nos deve ser indiferente,e,que é um dos grandes males da nossa sociedade já tão enferma, quiçá sem cura, mau grado intervenções poética-cirúrgicas
    com a qualidade literária que esta nos brinda.
    Parabéns.
    Um forte abraço.

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  4. Uma propaganda... Uma maneira inovadora de fazer poemas. Admirável sua criatividade, d'Alma.

    Boa semana.

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  5. A realidade do nosso mundo de "consumismo" passada para um fantástico poema.
    Considero isto um alerta , mas escrito sublimemente.

    Ao ler-te há sempre um despertar para a meditação

    Boa semana e agradecida pela visita

    beijinho da Gota

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  6. Perfeito!

    E mais não digo porque fiquei sem jeito...
    talvez alguém me perceba!
    ou talvez nem interesse...

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