terça-feira, 31 de maio de 2011

Política

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Subversiva!...
Insinuas-te entre alfazema e doce mel,
Espalhas no ar o perfume que se some,
Persuasiva!...
Tomes-te por quem te tome,
Serás sempre amante infiel,
Cândida virgem em seu fogoso corcel,
Injusta ofensa da ofendida sem nome,
Promessa farta nas searas de fome,
Cartas de amor em perfumado papel!...
Imersiva!...
Emerges do teu fel,
Afogando em doçuras meladas,
O sabor doce das palavras juradas,
Escondidas no teu calculismo cruel!...

Como é tão nevrítica,
Tua persuasão subversiva,
O emergir da derrota imersiva,
Doentia consciência política!...
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domingo, 29 de maio de 2011

..do Canto


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"É no teu canto que eu canto,
Quando adivinho em teu canto,
O canto que no canto se faz memória,
Aninha-se em cantos a desaparecida glória,
Cantos onde cantos mudos já não causam espanto,
Por ávido canto de estrelas onde canta a escória!...
Há o refúgio suave de asas ao vento em teu recanto,
Onde os teus Poemas são serenos registos de Victória!..."

Roubei eu,
Este Poema que dei,
E se ao dá-lo, bem o pensei,
Não penso que seja só Poema meu,
É também de quem no seu canto o recebeu,
Sem saber do pouco que de seu canto sei,
É Poema que ao lho dar ele mo deu,
Comentário rimado que roubei!...

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Medo

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Tenho uma estranha história para lhes contar,
Sobre uma figura de nome Zé povinho,
-Talvez já tenham ouvido falar!...
Certo dia ao ver o trabalho passar,
Vi o “queres fiado” muito sozinho,
Com seu braço caído em desalinho,
Sendo espancado por quem o andava a roubar!...

Não me contendo…
Nem pestanejei!...
“Enquanto a ti te vai doendo,
E o verdugo contigo se vai entretendo,
Folgo eu”, pensei!...
Ficando calado e quietinho,
Vi o desgraçado do Povinho,
Levar tantas que nem vos direi,
Só sei,
Que, já sem reacção,
O Zé abriu um olho todo ceguinho,
Para ver alguém muito arranjadinho,
Oferecendo-lhe sua muito limpa mão;
-Vem, amigo Zé, vou dar-te riqueza e carinho!...
Continuando a ser amassado,
Pelo Diabo que o continuava a amassar;
 Então, traído por um lampejo alienado,
Foi, por uma réstia de hesitação, assaltado,
E, num sobressalto, ficou a meio caminho,
De ser libertado!...
Mas, como há sempre um "mas",
 Nas certezas  dos Zés,
Para não variar,
Até o medo o resolveu assaltar,
Tolhendo-lhe os pés!...
Aconteceu o seguinte revés;
Desconfiando de não sobrar,
Quem não o quisesse roubar,
Ao invés,
Em vez da fuga de lés a lés,
Que até do poderia safar,
Disse baixinho para com a sua burrice:
-E se aquele candidato à fonte me quiser julgar?!...
Ainda me lembro do que este me disse,
Será que, se eu fugisse,
Seria capaz de me deitar,
E adormecer sem medo de respirar,
A incolor cor do democrático ar?!...
E lá voltou o seu medo,
A ser assaltado por mais medo,
Que não o deixava enfrentar,
Os medos do seu manipulado degredo!...
Entre um lés de dignidade,
E o outro lés de carneiro dependente do cajado,
Arrepiou caminho preferindo continuar a ser sovado,
Por quem lhe sempre negou qualquer legitimidade,
De ser livre para decidir seu próprio fado!

-Pelo menos já sei como este bate,
E o outro talvez até me mate!...
Pensou o Zé Povinho com renovado vigor,
-Vai de retro diabo tentador!...
Gritou, a custo, o pobre coitado,
Antecipando o pagamento do fiado,
Não riscado no livro do mesmo estupor!... 

Não se sabe bem como tem sobrevivido,
Mas, sabe-se que o Povo é sempre forte,
E, às vezes, para fugir ao medo da morte,
É bem capaz de foder quem o tem fodido!...

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sábado, 21 de maio de 2011

Consumo

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Aproximem-se, sociedades de consumo,
Na compra de um irresistível preservativo,
 Ainda levam um brinde horizontal do prumo,
Aproxima-te, meu jovem curvado sem rumo,
Levanta-te à oferta pelo teu gasto excessivo,
Na compra da ilusão de um fogo sugestivo,
Ofereço-te irresistíveis cortinas de fumo!...

Vem, milagre recém-nascido,
Há carne nua em promoção,
Por cada pedaço consumido,
Levas dádivas cruas contigo,
Saboreia um pouco de ilusão,
Já provaste a doce ingratidão?
É grátis na perda de um amigo,
Por cada um que te leve consigo,
Muitas outras promoções virão!...

Despe-te do anticonceptivo,
Parte do planeta é o rasgado 1% prevenido,
Sobra uma aceitável porção de uma terra doente,
Probabilidade eficaz de um produto escondido,
Na oferta de uma venda transparente!...

Por favor,
Jovem consumidor,
Compra a anticoncepção que tenho para vender,
É garantida a gravidez que te vai surpreender,
Bem-vindos sejam a este mundo acolhedor,
Os teus números gémeos que vão nascer,
Filhos do capitalismo e seu amor!...
Não penses, caro benfeitor,
Na exaustão do teu querido planeta,
Não te percas no leve voo da borboleta,
Saboreia o suicídio em todo o seu esplendor!

Preservem-se do que a Terra sente,
Consumam todo o seu futuro já no presente!...

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Autoclismo


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Em tantos anos de declínio da Democracia,
Nenhum doutor inventou um mecanismo,
Que descarregasse límpida água de idealismo,
Levando toda a merda da suprema hipocrisia,
Para o esgoto político de cínica supremacia,
Onde filhos são adoptados pelo cinismo!...

O caminho de esterco entulhado,
É escorregadio dejecto nauseabundo,
Verborreia prenha de vómito imundo,
Vomitada sobre um povo abestalhado,
Ainda crendo num poder conquistado,
Ignorante vítima do desdém profundo!...

Perante tão descomunal cagada,
Bifurca-se o caminho sem preconceito,
Optar pela esquerda é borrar o pé direito,
O cheiro da direita é igual trampa consagrada!...

Com um pé na merda e outro a feder,
Resta-me adiar este assistido suicídio,
Desprezando a vã cidadania do dever,
Direito estranho dessa forma de viver,

Essa de ser testemunha do homicídio,
Silêncio pago com o tumoral subsídio,
Neoplasma ruim impossível de vencer,
Tumor politizado de corrupto dissídio!...

Fechadinhos dentro de nós,
Tricotamos silêncios nossos,
Fechamo-nos a gritos vossos,
Fechadinhos dentro de vós,
Em cada ponto estamos sós,
Com as agulhas nos ossos!...

E lá no fim da rua,
Lá vêm os mesmos candidatos,
Da mesma merda que continua!...

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

O cabrão do verso Perfeito



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Pareciam grandes aqueles colhões!...
Daquele grande cabrão!...
Querem ouvir falar de cabrões?...
Ou preferem falar de paixões?!...
Falta de tesão!...
Não!...
Apenas ilusão,
De patriotas sem Pátria semeadores de ilusões!...
Terão as suas razões?!...
Não!...
São,
-E como são-
Miseráveis peões,
De tão ricos donos da prisão,
Poderosas redacções,
Imprensa prisioneira dos ladrões!...

Afinal são todos uns cabrões,
Sem aquele par de colhões,
Filhos da mesma puta que os pariu,
Não das verdadeiras mães que os pungiu,
Apesar das semelhantes feições,
Enteados da mentira que os nutriu,
Ensinando-lhes a nutrir quem lhes mentiu,
Cultura educativa de tostões,
Mídia corrompida por mentiras de milhões,
Cobertura dada a quem os encobriu,
Coveiros do Povo, fabricantes de caixões!...

Queimem os vícios das redacções,
Silenciem rádios de distracções…
Esmaguem a prostituída televisão,
Enquanto lêem a inocência de uma página em branco,
Gritem vossos gritos de aflição,
Não se preocupem com o verso manco,
Quebrem as muletas de falsos cifrões…
Sintam esses vossos colhões,
-Se os tiverem-
E, ainda que mancando, o Verso terá pernas para andar!...


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domingo, 15 de maio de 2011

Aconteceu


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Raio de beijo!...
Embaraçado!...
Embriagado..
Beijado…
Este beijo caído,
Perdido,
Achado…
Esta lembrança de um beijo esquecido!...
Um arrependimento sentido…
Consentido…
Perdoado!...

Aconteceu!...


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segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Peregrino

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Uma infeliz criatura,
Já de nascença sem pernas para andar,
Prometeu até aos pés da Sagrada Santa rastejar,
Abrir-se aos ensinamentos da Sagrada Escritura,
Se aliviasse essa alma de tão injusta agrura,
Concedendo-lhe o milagre de caminhar!...

Num abençoado Maio santo de trovoada,
Entre raios fantásticos e misteriosos trovões,
Atirou-se aquela alma lá do alto de suas convicções,
Estatelando o rosto numa porção de trampa dejectada;
Entre lábios ensanguentados, limpou a língua toda borrada,
Enquanto com os dedos esfolados e com arranhões,
Pediu licença a Deus, antecipando mil pedidos de perdões,
Por soltar uns desabafos que deixou aquela alma aliviada:
-Foda-se!... Queixou-se ao acaso entre outros palavrões,
-Se não me nascerem umas pernas ao beijar os pés da Adorada,
Juro continuar sem andar e voltar a não acreditar em mais nada!...

Lá começou a rastejar no início do escolhido calvário,
E tal era a fé perneta daquela alma penitente,
Que em poucas horas já provara pedras de sabor diferente,
Saboreando pratos de terra no chão e contas de um rosário,
Alimentando-lhe as forças com que alargava seu vocabulário,
Pelo que praguejava por cada metro de provação indecente,
Na certeza do sacrifício ser mesmo necessário,
Para que o regresso não fosse plangente,
E a todos mostrar-se como crente voluntário!...

Subserviente à sua vontade carregada de fé peregrina,
Bem ataviados e formosos leigos de afortunada sina,
Passavam por ele espertos peregrinos de pé ligeiro,
Classificando aquela alma de meio peregrino verdadeiro,
Metade da fé de uma outra doutrina,
Avidez egoísta de quem quer chegar primeiro,
Sem a necessidade de ser o oportuno herdeiro,
Das migalhas guardadas por pecados de rapina,
Rastos de fome em restos de orgulho de cordeiro,
Sisados na metade da alma de meia morfina,
Que uma parte do corpo vendeu ao banqueiro,
Deixando a outra parte ao abandono na esquina,
Misturada na fé da carne que outra fé não ensina,
Outros meados credos de um credo inteiro,
Vedado a meias almas de meio corpo rasteiro!...

Das horas já inchadas de anos,
De cada centímetro um quilómetro ensanguentado,
Já sentia o perneta seu coração profano,
Ser dilacerado por chibatadas de delírio humano,
Entre lautos almoços do mais fino pó só aos eleitos reservado,
Em fartas ceias de excremento vário de terra misturado,
Ainda serviu de meio tapete à passagem de outro meio engano,
E, ainda que espezinhado,
Só não foi rasteirado,
Porque, já se sabe, faltavam as pernas ao pobre Lusitano;
Reconhecendo um hábito de poder soberano,
Já que qualquer romeiro sobre ele passava,
Arrastou-se com a pouca força que lhe restava,
Convidando o voto de castidade a servir-se de seu corpo insano,
Ensaiando olhares de suposta sedução estranha no caminho atravessada,
Como uma espinha de peixe podre na garganta espetada,
Provocando náuseas ao clérigo da tenra carne em sagrado segredo ufano!...


Desprezado e tão longe dos pés da Santa que prometeu beijar,
Com as unhas esgaçadas e já incapaz de dar mais um “passo”,
Nunca o faria, por aquele “andar”,
Porque se não levasse ao Destino o beijo que prometera dar,
Desejo que de Esperança se tornava escasso,
Seu sacrifício inumano seria considerado fracasso;
Ainda rodou o tronco sobre si mesmo, tentando sobre as costas avançar,
Mas com as mãos desfeitas e a falta de pernas como castigo crasso,
Tudo que conseguiu foi praguejar,
Ficando ali imóvel de papo para o ar,
Tal como seu parado olhar baço,
Procurando o azul do céu atrás de pesadas nuvens de negro despertar!...


Quando se preparava para ensaiar um ódio de vingança,
Enquanto ainda procurava o céu azul e um novo dia,
Um azul estranho espreitou sua desconfiança;
Parecendo fitá-lo lá do alto de algo que ele não entendia,
Um maltrapilho de barba empoeirada sua mão lhe oferecia,
Reparou no pobre peregrino uma desencorajadora semelhança,
Com a fome de quem sempre esteve bem longe da bonança,
E praguejou mais uns agradecimentos de escárnio a um deus seu guia:
-Obrigadinho por me enviares a ajuda mais pobre da hierarquia!...
E, enquanto a ironia desprezível era seu fiel da balança,
Vendo passar perto dele um gordo símbolo de abastança,
Arrastou-se célere, para longe do maltrapilho que desconhecia,
Temendo ser confundido com aquele tolo que a mão lhe estendia!...


-Ó vadio, segue o teu caminho e fica bem longe de mim!
Disse o aleijado ao estranho peregrino que sorria humildemente,
-Desaparece, instigou com desdém o sem-pernas, descrente,
-Não quero ser visto junto de um tão miserável assim,
E, continuando a desdenhar, disse que para a sua reputação seria ruim:
-Nem Deus quer saber de pobres como tu, ó demente!...
Se não és rico, mais vale à tua vida pores fim!
Mas o magro peregrino continuou sorrindo alheio àquele chinfrim,
E até prometeu carregar o alijado até ao templo do milagroso jardim!...


Olhando de soslaio, ainda no chão prostrado,
A primeira coisa que viu foi um par de sandálias disjunto,
Nos estranhos pés limpos daquele misterioso esfarrapado;
Rebolou, então, o olhar para um e outro lado,
Não fosse alguém vê-lo “daquilo” junto,
Lá acedeu o arrogante aleijado,
Deixando claro que não haveria mais assunto,
E não queria conversas ao ser carregado,
Porque do nada e ninguém era o tolo sorridente transunto,
Já encavalitado nas costas do bom Homem, ordenou irado:
-Toca a cavalgar bem depressa ó piolhoso bestunto!
E este, com sorriso amável, seguiu apoiado num esguio cajado!...


Entre esgares de desprezo e palavras injuriosas,
Bem seguro em cima do Homem que continuava a sorrir,
Aproximavam-se aquelas almas do sagrado solo de gente religiosa,
E se a caminhada, para uns, fora penosa,
Foi para aquela alma sem pernas uma esperança que começou a luzir,
Graças à bondade de outra Alma que a Esperança lhe deu sem ele a pedir!...
Um pouco antes de entrar em solo de milagres dos crentes,
O perneta puxou violentamente o cabelo do desconhecido prestável,
Fazendo de quem o ajudou uma travada besta miserável,
Desferiu o perneta ordens insolentes,
De intenções que ele mais achava convenientes,
E ignorando a ajuda sobre-humana de Alma tão admirável,
Imediatamente ordenou ao bondoso venerável:
-Põe-me no chão, ó besta de carga de todas as gentes,
Se os ricos senhores e pessoas tão influentes,
Me vêm acompanhado de uma figura como tu tão insuportável,
Será pouco provável,
Que a Santa adorada me dê um par de pernas valentes!


O Homem que o carregara desde os princípios da Fé,
Delicadamente o aconchegou no chão sagrado, na entrada do templo;
Sorrindo meigamente, olhou o Céu para logo desferir um santo pontapé,
Na primeira banca que vendia pecados da santa Sé,
Disfarçados de milagroso exemplo!...


Correndo à cajadada todo o mercado por tantos milagres feitos,
Com o cajado que nunca encontrou na bondade obstáculo,
Expulsou mercadores de ímpios proveitos,
Por ditos apóstolos de pressupostos purgados preceitos,
Elegendo em seu representante, mais um tentáculo,
De rico homem do cajado que transporta o sagrado Báculo!...


Anos passados, ainda rastejando entre a poeira da alma vencida,
Recorda o pobre aleijadinho sem suas pernas para andar,
Um passarinho morto que o Homem que o carregou fez voar,
Lembrou-se ainda de uma promessa não cumprida,
De sua Fé que sempre estivera perdida,
E da língua afiada que o privara de falar,
Mas, o que mais dói em sua Alma ferida,
É o sorriso meigo daquele olhar,
Que um dia lhe ofereceu nova Vida,
E que, por ingratidão, o aleijadinho não soube aceitar!...
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domingo, 8 de maio de 2011

09.Maio.1964


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Nem sempre sabemos ser,
A Luz que nos deste,
Ser Luz nua da ingratidão que nos veste,
Despir do que não soubemos crescer,
 Merecer…
O parto fácil em tempo agreste,
Celeste…
Luz dada à Luz no primeiro amanhecer…
O pouco do muito que somos do ser,
Ainda que pouco mais nos reste!...

A Luz que irradia o meu Diário,
É a energia dominada de um raio,
Também é sombra de um adversário,
Tempo que é tão nosso e o contrário,
A passada de mais um louco Maio,
No Passo do nosso Aniversário?!...

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