segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mimosa

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Pousa na verdura… nu,
Faz Amor com ela,
Masturba-se!...
Sente a sensível brisa chegar,
Agita-se o fogo na delicada Mimosa,
Refrescando a verde e amarela voz que diz:
-Feliz?!...
Vem-se daquela amante,
Acaricia-se sobre ela,
A mimosa atrevida e radiante,
De mim se despede,
A meiga e verde voz amarela!...

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Espelho

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Estranho este estranho despertar sem norte,
Sul invertido de uma estranha projecção forte,
Enigma do olhar fitado na cópia do avesso,
Fitando quem a hipnose fita em visão torpe,
Confusa visão essa de convexa cicatriz de corte,
Rasgando o mundo de esvaído sangue espesso,
Tua expiação de meu leve sorriso que entristeço,
Vida contrária reflectida no contrário da morte,
Reflexo ausente da imagem ausente de sorte,
Cópia clara da perfeita luz que escureço!

Tocamos nossas mãos que não se tocam,
Aproximam-se meus etéreos lábios dos teus,
Beijo volátil em anestesiados lábios meus,
Amor proibido que os teus olhos evocam,
Íris de meus medos que teus medos focam,
Transparente reflexo sem Alma nem Deus!

Na concha lisa onde abraço o eixo de luz fulgente,
Deslizo entre danças sedutoras de brilho cintilante,
Sigo teu passo, passo de meu passo, teu amante,
Dimensão fugidia de tão igual miragem diferente,
Fugindo de mim, procura teu encontro incessante,
Côncavo de teu efémero abandono indulgente,
Teu convexo corpo escravo de meu sangue quente,
E repouso em ti, que em mim repousas expectante,
Equilíbrio sobre esfera em descontrolo iminente,
Do espanto duvidoso de uma certeza hesitante!

Um feixe de Luz disparado em trajectória angular,
Investe suave no reflector contrário que diverge,
Desvanecendo uma hipnose de fixação crepuscular,
Raio de Sol sem reflexo que do Amor emerge,
Infinitas partículas de espelho em interdito mirar,
Desvanecido Narciso que no crepúsculo submerge,
Feitiço meu que só eu, de mim tu podias quebrar!

Somos agora um reflexo frio do sangue que temos,
Estátuas frias de vidro que do outro lado vemos,
Frio Amor cúmplice de nosso igual pensamento,
Bizarra imagem fascinante pela qual morremos,
Vislumbre culpado de espelhado momento!

Estavas tu tão perto, atrás de mim, do outro lado,
Espelho de mim no meu reflexo espelhado!



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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

…!?...Lágrimas…?!...





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Porque a lágrima sorridente,
Só é triste,
Na tristeza que assiste,
Á tristeza da própria mente?!...
Será uma felicidade diferente,
Da felicidade que resiste,
Á felicidade de muita gente?!...
Talvez…

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tatuagem na Queda







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…E com a dor da cicatriz,
Tatuam-se na memória,
Com as agulhas da história,
Dívidas de uma história infeliz,
Como  a árvore de fruto… sem raiz,
Vergada pelo fruto na queda inglória!...


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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

...Vontade Amorfa



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Nos queixumes de um olhar sem vontade,
Ainda ressoam as promessas dos meliantes,
Ecos sem abrigo que morrerão sem a saudade,
Do pão de cinza que lhes alimentava a verdade,
Fogo sublime dado à vida que ardia por instantes,
Entre lampejos das horas verdes e fustigantes,
A palidez amorfa de espelhos sem vaidade!...

Dezoito Virgens darão à costa,
Geradas no útero da Terra violentada,
Mãe, tão Mãe, por demais desventrada,
Por tão ingénuas perguntas sem resposta,
Solução do pobre espírito que tanto gosta,
Silêncio vazio de um grito cheio de nada!...

Dos vómitos de Homens fracos,
Crescerão Crianças entre a carne rasgada,
Cicatrizando feridas de Vidas desfeitas em cacos!...


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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A Pedrinha




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Aquela pedrinha,
Ali sempre quietinha,
Nunca se queixava;
Batia-lhe, batia-lhe,
E não pestanejava,
Doía-lhe, doía-lhe,
E ali ficava!...

No regresso de cada patuscada,
Presságio e arrepio do que não pedira,
O monstro desaustinado, bêbado de ira,
Corria a Pedrinha à pedrada,
E por cada uma que lhe acertava,
Entumecia pelo ciúme que o impelira!

Depois, com o remorso, vinha a covardia,
Fugia o covarde para bem longe da Pedrinha,
Esquecia a Justiça que na pedra merecia,
Mas não a pequena Pedra mansinha!...

Num dia cinzento, quis a Pedra fugir,
Mas não tendo amigos para onde ir,
Ali ficou!...
Num Inverno em que Sol não havia,
Sentiu que a sorte mudava;
 A Pedrinha, que antes sofria,
E pelos castigos aguardava,
Agora já não aguentava,
Veio mais um que a possuía,
Mais um que seu sofrimento não via,
Se um a magoava,
O outro lhe batia!...

Apostavam ambos a Pedrinha,
Naquele cruel jogo da Vida,
Todos desejavam sua beleza de rainha,
Beleza dela sempre escondida;
Ora a perdiam,
Ora a ganhavam,
Numas vezes a agrediam,
Noutras a beijavam,
Se uns a maltratavam,
Dela, todos riam,
Outros bofetadas lhe davam!...

No fim de um Inverno,
A Pedrinha desapareceu,
Dizem por aí que morreu;
Para a Pedrinha de olhar terno,
Acabara uma vida de inferno!
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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

...depois


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…Depois,
Enquanto se desvaneciam os sonhos,
Das penas foram caindo todas as cores,
Aspergindo de negro coloridos amores,
Que murchavam em Jardins medonhos,
Essência maltratada de iludidas flores!

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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Namoro do Pavão



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Duas penas e um Pavão,
A dança exuberante do ritual,
Papo rebentando de sedução,
Astucia do fascínio sem senão,
Sedutor Sol de calor consensual,
Um leque aberto de brisa visual,
Atiçando o fogo na paixão!...

Mais uma pena no papo,
-Ou duas e um tabu,
O Amor serve-se cru,
O beijo saboreia o priapo,
Do príncipe e não do sapo,
Sendo eu, até podes ser tu,
É que nisto de despir o nu,
E vestir a linha com um fiapo,
Pode ser remendo de farrapo,
Pena de pavão, beleza de peru!
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Será a flecha de Cupido,
Veneno de tesão danado?!...
Ou será Amor envenenado,
De Amor inocente fingido?!...
Talvez um lindo sonho colorido,
Com cores de Amor pintado!...

Talvez...


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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

À Margem


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Foi subjugado um forte rio,
Por duas margens apaixonadas,
Sempre se amaram apartadas,
Pelo ávido desejo de ser vadio,
Daquele manhoso curso vazio,
Amor de vivas águas esvaziadas!

Nesse vaidoso,
Rio sinuoso,
Que às margens se insinua,
Rola um seixo medroso,
Com cicatrizes de Lua,
Luar de banho vaidoso,
Perdido no poder amoroso,
Do desamor que desagua!

As margens lá continuam,
 De si ambas distantes,
Nada ficou como dantes,
Suas lágrimas já não desaguam!

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Nuvem



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Vistosa,
Montou cúmulos de algodão,
E, Curiosa,
A dengosa,
Fez-se brisa de sedução,
Plena de paixão,
Silenciosa,
Gozando a fresca vibração,
De quem goza,
Posições de submissão,
Sobre nuvens de emoção,
E, fogosa,
A gulosa,
Lambia a ilusão,
Deliciosa,
Da nova posição,
Possuída pela ambição,
Ambiciosa,
Até à primeira contracção,
Nervosa,
Vindo-se em precipitação,
Satisfação,
De nuvem Preciosa!

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Calendário



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Os ídolos colados na cal apodrecida,
Apagavam a memória dos calendários,
Entre as sumptuosas coxas e seios de diva,
Arregalavam-se os batidos dos olhos solitários,
Gastos orgasmos marcados nos desgostos diários,
Dos sonhos que se guiavam pelas estrelas da vida,
Talvez sonhos encantados, talvez estrela prometida,
Brilhando sob doze marcas dos prazeres ordinários,
Dias de cal viva queimados na esperança perdida!...
Foram caindo as folhas nuas dos velhos calendários,
Dos olhos precipitaram-se as despidas vendas,
Amontoam-se os dias na folha desiludida,
Dos meses nus deitados às calendas!

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